Sempre aos domingos
Aos domingos, os rapazes visitavam as namoradas no internato. Durante a sesta das moradoras, eles chegavam. Quietos, para não chamar a atenção da chegada. Não era proposital e nem pré-determinada a atitude. Era assim. Como um acordo tácito entre as partes. Éramos em torno de quatro ou cinco meninas em idade de namoro. Havia uma única sala para visitas. Era o lugar onde ficávamos. Na verdade, o namoro era em grupo.
Um domingo, a madre superiora interrompeu o acordo. Chegou, sorrateira. Fiquei alguns segundos sem respirar. Não sei os demais. O que ela teria vindo fazer? Acabar com as visitas domingueiras? Passar um sermão? Colocar regras e horários, ou nada disso?
O grupo manteve a conversa e o bom-humor. Pelo menos, na aparência. E como uma orquestra começou a tocar o instrumento com uma afinação sem igual. A solução foi inusitada. Um de cada vez falava sem parar. A conversa não permitia brechas para a madre dizer a que veio. De tudo foi lembrado. Do aniversário do dia anterior, da festa do próximo domingo, do sucesso da quermesse para angariar fundos para a construção do ginásio de esportes, dos novos jogos adquiridos pelo colégio, do destaque de algumas internas nos campeonatos de vôlei e pingue-pongue da cidade, dos preparativos para o aniversário dela no próximo mês e muito mais. Como uma partida de vôlei. Quando alguém pegava a bola, passava para o outro e chegava à rede para marcar ou não o ponto, mas não interessava.
A madre abria a boca e era logo interrompida. O que ela teria vindo fazer naquele dia e naquele horário como intrusa entre os jovens apaixonados? Depois de 40 anos, às vezes me pergunto: o que ela pretendia nos dizer? Será que ela nutria algum temor? Será que ela não aceitava as visitas? Nunca soubemos.
De repente, ela levantou-se, calma, alegre, e foi embora. Sem dizer uma palavra.
28.11.08