AS CARTAS DE JULLY - (II)
Querido leitor, esta é uma série sobre uma menina chamada Jully. Ela escreve cartas. Para ninguém e para todos. Ela simplesmente escreve cartas sobre o que vive, vê e sente no seu dia-a-dia e depois, faz um aviãozinho e arremessa ao vento, sem destino definido... Assim, como na vida real, ela vai crescer, mas tudo no devido tempo. Jully tem muita história para contar... Não repare as repetições de palavras e possíveis erros que poderá encontrar nas cartinhas dela, afinal Jully só tem oito anos. Conforme for crescendo, suas escritas serão aperfeiçoadas.
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Rio de Janeiro, 23 de janeiro de 1973.
Oi, pessoa! Cheguei da escola, tomei banho, fiz dever de casa, almocei, tomei soda limonada. Depois assisti televisão. Adoro cantar essa musiquinha: “Não existe nada mais antigo do que cowboy que dá cem tiros de uma vez. A vó da gente deve ter saudade, do Zing Pow , do cinto de inutilidades... No nosso mundo tudo é novo e colorido, não tem lugar pra essa gente que já era: Morcego velho, bang-bang de mentira, vocês já eram; o nosso papo é alegria!”.
Ah... Tenho uma novidade! Meu pai comprou um telefone! Nossa casa é a primeira da rua a ter um telefone. Veio um montão de gente ver o homem instalar. Ainda me assusto com a campainha do telefone! É incrível como posso falar com minha avó que mora do outro lado da cidade! Meus primos ficam ligando do orelhão toda hora pra aqui. Adoro atender o telefone!
Sabe, hoje fiz mais uma arte com insetos... Eu juro que não faço por maldade, mas um diabinho fica me tentando aí eu faço... Sabe o que eu fiz? Peguei uma sacola e capturei uma lavadeira, minha professora diz “libélula”, mais eu gosto mesmo é de lavadeira. Meu amigo que veio de Minas Gerais, diz que lá na terra dele, eles chamam a lavadeira de “lava-bunda”. Achei esquisito, mas depois eu vi que as lavadeiras colocam o rabinho na água mesmo, não sei pra quê, mas o Borges da minha sala que é danado de moleque, diz que ela tem “fogo no rabo”. Achei uma graça danada, ele é meio doido, mas mata a gente de rir... Bem, aí eu peguei a lavadeira, um pedaço de linha de costura da minha mãe e amarrei a linha na bundinha da lavadeira. Então eu soltei ela e fiquei brincando igual a uma pipa! Foi legal demais até ela volta e se embolar no meu cabelo! Eu quase morri de tanto gritar e quase matei minha mãe de susto... Dessa vez a bronca foi pior porque já havia feito aquela malvadeza com o vaga-lume. Minha mãe fala muito, mas, meu pai fala dobrado! Minha mãe é ladainha e meu pai é sermão!
Bem, agora vou brincar de pique-pega, de amarelinha e de bonecas com minhas colegas.
Um beijo e até outro dia!
São 13:25