Dor Entorpecente

Aquele homem teria por volta de trinta e poucos anos, mas sua fisionomia triste e carregada de vazio fazia-lhe velho. Branco de estatura mediana, cabelos longos, crespos e embaraçados.

Sentou-se a mesa no canto próximo à parede e pediu uma bebida, um trago forte para anestesiar-lhe o dia.

Ouvia música com fones de ouvido, mas em um volume tão alto, que no salão todos poderiam até dançar.

Em certos instantes olhava o nada, outros fechava os olhos sacudindo a cabeça e o corpo desajeitadamente talvez tentando acompanhar o ritmo da música.

Aquele momento era só dele e não se importava com o vai-vem das pessoas e com o que elas falavam. Algumas o olhavam com um ponto de interrogação nos olhos, comentavam algo e ele nem percebia.

Outro copo, depois mais um. Demorou ali por volta de hora e meia. Naquele mundo tentava esconder-se de si mesmo.

Do canto eu observava aquela face entristecida, quem sabe o que estaria passando naquela cabeça e o que estaria vivendo aquela vida.

Um misto de dor e indiferença pairava sobre ele e o álcool lhe ruborizara a face alva.

Não sabia o que fazer com as mãos e então teceu duas tranças nos cabelos longos. Ficou estranho, mas engraçado. Continuava pouco lhe importando a opinião dos demais presentes.

Foi então que se levantou e cambaleando caminhou até o balcão para pagar sua anestesia temporária.

Eu continuava olhando. E também doía em mim. Indaguei então:

Quem de nós seria o mais covarde?

Ele por esconder-se da dor atrás do copo de bebida ou eu por regar com meu copo de lágrimas as flores nascidas sobre o jazigo do amor que acabei de sepultar?

Fernanda Vaitkevicius
Enviado por Fernanda Vaitkevicius em 27/11/2008
Código do texto: T1306876
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