A loucura tem seus encantos!!

Meus amigos dizem que sou louca!! Às vezes estou sorrindo a toa, e outras mordendo calcanhares. Mas o bom para os outros (e para mim mesma) é que quando “não estou a fim de beijo” os sinais são aparentes, nada de enganação. Só de olhar o sujeito que me conhece um pouquinho, já sabe que é melhor deixar quieto. Não faço nada demais, não saio batendo em ninguém (pelo menos não de graça). O que faço bem, é me esconder atrás de meus óculos, atrás de um livro enorme e de responder a perguntas com pequenos grunhidos entre dentes. E pronto, basta passar quietinho, e eu não vou sair mordendo os calcanhares alheios. Por que é muito feio morder os calcanhares de colegas, clientes etc.

Uma vez até tentei brincar de ser meiga. É... Meiga igual àquelas bonecas namoradeiras, que falam com vozinha de criança, lançam olhares melosos e sorrisos suplicantes. Só que deixei um pessoal meio estarrecido. Eles perguntavam baixinho “O que foi que deu nela?”.

Alguns mais corajosos vieram perguntar. “Simone o que tu tem criatura? Está falando tão diferente!” Eu dei um sorriso meloso e com voz de atriz de romance açucarado respondi. “Estou tentando ser meiga, hoje vou ser assim o dia inteirinho.” Provoquei risadas. E mais, provoquei um tumulto, todos se mobilizaram fazendo apostas. Queriam ver quem acertava o tempo que levaria para acabar toda aquela meiguice. Teve quem jurou que não passariam de cinco minutos.

“Simone o que está fazendo aí, sentada sem o seu livro?”

“Estou esperando uma cliente, que já está dez minutos atrasada... Mas não tem problema (cara de paisagem e voz de ninfa do asfalto)”.

E assim por diante. Não tão adiante como eu esperava. Já que não foram apenas cinco minutos de meiguice, mas eternos dez minutos.

Dei um basta na meiguice quando um camarada desastrado derrubou meu secador de ultima geração, fazendo saltar o bico para debaixo da minha bancada. Não sei se foi de propósito, mas ele ganhou a aposta (disse que dava dez minutos para a minha meiguice voar pela janela). E foi exatamente assim que ela se foi. Não teve graça nenhuma, nem em sonho eu consigo ser uma mulherzinha meiga e cheia de boa vontade!!

A louca agrada mais. Faz rir, conta histórias engraçadas e faz caretas. Nossa!! Rainha das caretas! Se fosse verdade esta história de que anjo assopra e você fica torta, eu com certeza seria tortíssima!! A louca não cultiva falsos amigos, e nem empresta sorrisos amarelos. Se for para franzir a testa, não tem pena franze mesmo. Agora se sorrir para você, pode saber que gosta da sua companhia.

No meu prédio tinha uma senhora que não gostava de ninguém, todos tinham um defeito. Tinha mania de perseguição. E adorava esfolar os cotovelos na janela atrás de uma fofoca.

Pois não é que ela me adorava? Me chamava de “Susie”. Puxa! Ser chamada de Susie aos trinta e sete anos!! Tá... Não precisa tripudiar dizendo que a Susie é a versão genérica da Barbie, ou que a senhora era ligeiramente cega. Que eu já sei disso , tá?

“Como ela é querida!” Disse ela uma vez para minha sogra. “Não reclama de ninguém e sempre sorri para mim!”

“Experimenta pisar nos calos dela para ver no que vai dar!” Disse minha sogra...

Pois é... Prefiro assim, louca. A meiguice não combina com meu jeito de ser!

E a loucura tem seus encantos!!