"A diarista sonhadora..."

  
  Para variar,Rosa continua viajando em seus pensamentos e nem se dá conta de que está sendo observada e chamada por uma de suas patroas...
  É comum encontrá-la nesse estado de inércia, sempre com uma vassoura na mão
...
  -Rosa...Rosa...Rooooosaaaaa!!!
  -Hã...? Ai...desculpa Da. Ana ...eu estava varrendo a sala e começou a passar a propaganda da Marisa... A senhora viu como o Fabinho está lindo...?
  -Mais linda está a minha sala com essa poeirada espalhada! Quantas vezes vou ter que te falar que homens desse tipo não existem? Isso é só uma propaganda!
   Na mesma hora,Rosa pensou:”Também, com um marido desses, quem vai acreditar que possa haver coisa melhor? Um traste que só presta para comer, beber e dormir...aff!”
   Mas Rosa não se convencia disso nem por um decreto, acreditava piamente que encontraria seu “príncipe encantado” em algum lugar muito especial... O que estragava essa certeza é que raramente saia de casa, a não ser para trabalhar, o que dificultava que a encontrasse, mas ela não desanimava.
  -Rosa...Rosa...Rooooosaaaaa!!!
  -Caaaalma, dona Catia...eu só estava assistindo um pedacinho dessa novela... A senhora já reparou como o Marcelinho está sarado? Que peito é aquele? (Catia era mais uma das patroas e ficava enlouquecida com as distrações da moça).
  -Reparei mais ainda no peito do frango que está torrando no forno! Você não muda mesmo, não é Rosa? Eu já te disse minha filha,não se iluda!!! Você precisa sair um pouco, conhecer alguns rapazes da sua idade e parar de assistir tanta televisão, isto está te fazendo mal...!

  -Mas dona Catia,eu não preciso conhecer ninguém, o meu príncipe está chegando, a moça la da igreja me falou, que quando eu menos esperar, ele vai aparecer...e do jeitinho que eu sempre sonhei...com os olhos do Fabinho (Assunção),a boca do Rere (Gianechine),o cabelo do Murilinho (Rosa),o peito do Marcelinho (Antoni),as pernas do Kaka (futebol),a barriguinha do Vann Dame,o bumbum do Stalone e a voz do Cid Moreira...Nossa!!!...já pensou???
  -Por Deus Rosa! Em que igreja você está indo??? E quem foi essa doida que confirmou esse seu desejo maluco?
  -Isso não importa! Mss não vejo a hora de encontrá-lo...
      Assim eram os dias de Rosa...
  Sempre trabalhando, “viajando”e se enrolando nas suas atividades, principalmente quando durante um de seus devaneios, guardava os produtos de limpeza na geladeira, quebrava os ovos no lixo e punha as cascas na massa do bolo, sal no café...uma maravilha.

 -Rosa...Rosa...Rooooosaaaaa!!
 -Desculpe...euuu, eu já ia lavar a roupa...quero dizer...já fui...!

    Nisso, dona Raquel, sua outra patroa, fica simplesmente chocada com a cena que acaba de ver. Rosa estava dançando na lavanderia com nada a maisn ada a menos que um suéter sujo e acabou pensando se não seria o caso de levá-la a um psicólogo, afinal certas atitudes não são normais.
  Ninguém pode viver tanto tempo no “mundo da lua”!

   -Rosa, você já pensou em procurar ajuda?
  -Para quê, dona Raquel? Meu serviço não está bem feito?

  -Estou me referindo a esse seu comportamento. Não é normal ficar dançando com roupas, desejando o impossível! Você precisa acordar, menina! Isso nunca vai acontecer!
   Rosa pensou em dizer que também não era “normal” alguém ficar casada por conveniência com um marido que só aparecia em casa para pagar as contas, trocar as roupas da mala e...
 -Rooooosaaaaa!!!! Tem alguém aí?

 -Eu estou lavando as roupas...
 -Com amaciante,ao invés de sabão líquido? Você deve se achar a própria Rose do Titanic,não é?
  -Na verdade, não...o Jack é muito magro e...tem a língua presa...
 -Desisto! Você é uma doida varrida!

   O que Rosa não sabia... é que sempre que saia de casa para trabalhar, um belo rapaz a observava... Seu nome era João e achava que ela era a Paulinha (Ana Paula Arózio) de seus sonhos...
  João era farmacêutico, pertencia a uma boa família e todos gostavam dele pelo modo com que tratava as pessoas. Sempre muito educado, alegre e brincalhão, mas ao mesmo tempo com um charme que só ele conseguia ter.
   Não era nenhum Brad Pitt, mas encantava e cantava. Era vocalista de uma banda, cantava de tudo um pouco mas o que mais lhe agradava cantar era a música que havia feito para sua deusa e não via a hora de fazer isso pessoalmente...só que faltava coragem...
   Um belo dia, no meio de uma tremenda chuva, os dois acabaram se esbarrando e Rosa quase caiu não fosse a rapidez do rapaz em segurá-la. Aquilo para ele foi um sonho...mas para ela um pesadelo...preferiria ter caido a ser segurada por um simples mortal e não o seu querido príncipe.
   Os dias foram passando...mesmo querendo, Rosa não conseguia esquecer daquelas mãos fortes lhe segurando...acabou desejando encontrá-lo novamente.
  Já não pensava tanto em seus atores preferidos e nem trocava as coisas...
  Estava tudo indo bem até ela ter que ir à farmácia e quase enfartar ao ver “quem” era o farmacêutico. Os dois disseram "oi"praticamente em côro.

  -É você...?
 Ficaram um tempo sem saber o que dizer um para o outro até que Rosa para disfarçar pediu uma ...coca-cola...? Na mesma hora ficou roxa de vergonha e falou que não era bem aquilo o que queria dizer ou comprar mas que havia...esquecido.
  João achou uma graça a situação e viu ali uma chance de se conhecerem melhor.
  -Que tal começarmos... do começo?
  -O que? Disse Rosa.
  -Meu nome é João. E o seu?
  -Rosa...
  -Então mocinha, o que realmente deseja?
  -Você...quero dizer...comprimidos para...dor de cabeça?
  -Ok, que vai fazer no final de semana? Teve que perguntar logo ou perderia a chance e a coragem que já não era muita.
   -Bem...nada...que eu saiba...
   _Que tal irmos a um restaurante com     música ao vivo sábado às 20h?
  -Não sei se...quero dizer...acho que não...
  -Vou considerar um sim.
   -Você nem sabe onde moro, quem sou...!?
  -Sei o suficiente...
   A farmácia lotou de repente e Rosa ficou ali parada, sem saber o que fazer, não lembrava se estava indo ou vindo de casa ou do trabalho, estava totalmente atordoada.
  Os dias se passaram e quando se deu conta era sábado. Rosa não sabia o que fazer, o que vestir, como se comportar...nunca tinha saído com um rapaz antes e nem era o que queria e sonhara a vida toda...não queria correr o risco de ser vista pelo seu “príncipe”com outra pessoa... O que pensaria dela? O que faria? O que diria? Nisso tocou a campainha e acredite se quiser...era ele, justo ele...Por que não se esqueceu do encontro? Será que não tinha nada melhor para fazer ao invés de ficar indo na casa dos outros, se intrometendo onde não era chamado?
  -Só um minuto, já te encontro lá fora.   -Disse Rosa. Não deixaria um estranho entrar em sua casa. Aliás, como ele sabia onde morava...?
  Com muito custo Rosa se arrumou e ficou parecendo uma verdadeira rosa de tão bonita e perfumada. João teve que se conter para não abraçá-la e beijá-la...não o fez para não assustar a moça...
   No restaurante não tiveram muito o que dizer...Rosa se sentia traindo seu príncipe mas ao mesmo tempo não continha a emoção que estava sentindo, era tudo muito novo e confuso...
   Comeram alguma coisa mas nem sentiram o sabor direito, foi só para ocupar a boca e não ter que falar. Por fim, alguém anunciou o nome do rapaz e esse teve que se retirar pedindo licença.
  -Voltarei assim que puder, querida...-nem ele acreditou que havia dito aquilo.
   Rosa ficou ainda mais perplexa quando o viu subindo ao palco e cantando com o restante da banda. Sua voz era suave...delicada...era quase um...
  Nesse momento ouviu seu nome. Mordeu os lábios e ficou imaginando o que teria feito de errado desta vez para que a chamassem...
  Era João quem estava tentando ter sua atenção. Parecia que a conhecia tão profundamente... era como se enxergasse o mais íntimo do seu ser...pelo menos o suficiente para perceber que ela poderia estar em qualquer outro lugar...menos ali...e isso era no mínimo assustador.
  Como que percebendo seu desespero, João começou a dizer como aquela noite era especial...pois ha muito tempo tinha encontrado a mulher da sua vida...mas não tinha tido oportunidade nem coragem de dizer o quanto a admirava e amava... .Todos os dias a via indo e vindo do trabalho e se perguntava quando teria uma chance de chegar ao menos perto dela...até que um dia ela caiu em seus braços, depois de se esbarrarem no meio da rua...quase a beijou...mas sabia que o máximo que conseguiria seria um tremendo safanão, o que não ajudaria em nada seus planos.
   Rosa estava cada vez mais encantada e assustada...! Como não havia percebido...sentido...ou...? De repente ouviu seu nome novamente e...
  João estava dizendo que diante de tanto amor a única coisa que lhe restou fazer foi uma música para sua amada...em seguida cantou...
Todos ficaram emocionados com a beleza da letra e...

  -Amor...você me daria a honra dessa dança...?
  Rosa estava em transe...os dois choravam de tanta emoção...todos aplaudiram a cena no restaurante...em seguida começaram a dançar.
 A moça nunca tinha se sentido tão feliz e acabou percebendo que o verdadeiro príncipe sempre esteve em seu coração e...poderia ser qualquer um desde que ela desse uma chance...uma única chance de ser amada e de amar...

 

 

 P.S. Peça escrita especialmente para pacientes Nefrocare 2007

 

Vallerie
Enviado por Vallerie em 25/09/2008
Reeditado em 26/05/2016
Código do texto: T1195240
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