A ALFACE E O AGRIÃO...
A ALFACE E O AGRIÃO...
Junto ao aeroporto da cidade de Cornélio Procópio no norte do Paraná, existe uma pequena estação ferroviária chamada Guapuruvu. E o pai de Mike era um guarda-chaves daquela pequena estação. Perto havia uma comunidade de ferroviários, onde morava Abigail, filha de um dos habitantes daquele núcleo residencial. Mike tinha 9 anos e estudava numa escolinha da colônia japonesa a alguns quilômetros dali. E todos os dias eles seguiam juntos para a colônia. Era longe e eles tinham que levar lanche. Não havia merenda nem lanches naquela escola só de japoneses. Abigail tinha 13 anos e certa afinidade por Mike. Ela era bem maior do que ele. Mike a tinha como amiga. Estudavam separados. Na sala de Mike ele era o único filho de brasileiros. Aprendeu a gostar de comida japonesa que ganhava dos amigos e amigas. E todos os dias eles partiam felizes para a escola. Iam brincando, cantando, e correndo pelo meio do cafezal. Cada um tinha um apelido. Mike era “Agrião”. Os outros eram: Serralha, Alface, Chicória, etc. Era o ano de 1956. No meio do café os japoneses plantavam melancia e havia mangueiras, laranjeiras e ponkan. Certa vez sua turma inventou de furtar algumas melancias. Foi um tremendo drama. Quando conseguiram pegar umas melancias e se preparavam para ir embora. De trás de cada pé de café surgiu um japonês, como vietnamitas nos filmes de Rambo! Todos tiveram que largar as frutas e correr pela estrada.
Outra aventura que as crianças daquele lugar gostavam era a de ir até ao aeroporto ver a chegadas dos aviões da Varig e da Real. Assim que os aviões aterrissavam Mike e sua patota ia até as escadas nas portas dos aviões onde ganhavam lanches dos passageiros, ou das aeromoças. Mike gostava de um lanche de pão de forma com presunto, que sempre havia.
Mike também gostava muito de ir à matinê na cidade de Cornélio Procópio. Ele sempre ia àquela cidade fazer compras para os seus pais.
Infelizmente tudo aquilo foi tão rápido, o pai de Mike ficou muito doente. Começou a sofrer de ataques e cair entre os vagões. E um dia estava para ir embora de Guapuruvu. Seus pais haviam resolvido voltar para Conselheiro Zacarias. O vagão da mudança chegara ao pátio da pequena estação. Mike estava no terceiro ano. Pedira a transferência. Então todos os seus amiguinhos começaram a ajudar a carregar a mudança de Mike no vagão. Eles partiriam no outro dia, bem cedo.
Quando amanheceu a mãe de Mike preparava o café, apareceu a Abigail dizendo que queria falar com Mike. Sua mãe o acordou depressa.
- Que foi mãe?
- Você tem visita lá fora!
Mike foi verificar. Era a Abigail. Querendo se despedir dele. Ela estava só e não quis despedir-se na noite anterior quando todos foram dizer adeus para Mike.
- Mike, preciso lhe contar uma coisa. Eu não podia deixar você partir sem dizer o que sinto por você! Eu amo você. Nunca disse para ninguém isso. Sei que sou maior que você. Mas isto não faz diferença. Tenho lido que existe muitos casos iguais!
Abigail era muito bonita. Tinha vários irmãos. Todos eram amigos do menino. Mike sempre a teve como amiga. Mas naquele dia Mike ficou muito feliz. Ele ainda não havia pensado no amor. Mike brincou:
- O que é isso “Alface”! Não precisa chorar! Você pode me escrever. Mande-me as cartas pelo meu irmão que continuará aqui na estação!
O irmão de Mike também era ferroviário e trabalhava de telegrafista naquela pequena estação. Por isso que trouxe a família.
O maquinista apitou a locomotiva que já havia engatado no vagão da mudança. Abigail beijou Mike chorando. Mike nunca tinha beijado ninguém. Ela lhe deu uma carta que ele foi lendo quando o trem ia saindo lentamente de Guapuruvu. "Guapuruvu, 3 de setembro de 1956. Querido Mike, você não pode imaginar o quanto essa partida aperta o meu coração. Essa partida expreme tanto meu coração que dele brotam lágrimas. Eu pensava que nosso convívio seria eterno ou pelo menos duradouro..." O menino fechou o envelope e chorou também. Afinal existem homens machos que são capazes até de chorar, disse um poeta.
Depois daquele dia nunca mais se viram. Mike ficou sabendo que aquilo que sentia por ela também era amor.[
“Triste é um trem que parte, levando aquele que não quer ir embora!”
Theo Padilha. 5 de setembro de 2008