Tempo de Luto
Quem foi que inventou que só se fica de luto quando morre alguém? A morte pode representar tão mais que simplesmente o fim da vida. Sim, pois também ficamos de luto ao perdermos nossos bichinhos de estimação, numa mudança brusca de posição social, perda do emprego, qualquer coisa que represente a morte ou o fim de um ciclo.
Fiquei pensando sobre as várias mortes que enfrentamos diariamente e até sobre os “assassinatos” que precisamos cometer e não temos coragem de consolidar. E é aí que mora o problema.
Temos o péssimo hábito de substituir rapidamente as pessoas, coisas, objetos e emoções para nos protegermos da sensação de mal-estar que acompanha a morte e, neste caso, não respeitamos o chamado tempo de luto. Seja qual for a perda, é melhor que passe logo, sofrer é perda de tempo, não é mesmo? Que grande bobagem!
É óbvio que não se pode ficar a vida toda lamuriando sobre a perda.
Na verdade nada se perde as situações apenas se transformam, assim como as pessoas, os lugares e tudo o mais que faz parte dessa maluquice que chamamos de vida.
O que isto tudo tem a ver com luto? Não, não enlouqueci. Explico já.
Tudo nesta vida é cíclico. Principalmente os relacionamentos humanos.
Seja lá qual for o momento atual da sua vida, certamente tem algum lado dela se transformando neste exato instante que você lê estas observações.
As transformações às vezes são sutis, mas às vezes também são tão bruscas, que não dá tempo assimilar rapidamente “os porquês” dos fatos.
Há algum tempo venho conversando com uma pessoa de minha família que se separou da mulher recentemente após dez anos de casamento.
Contou-me dentre outras coisas que um dia desses fez uma daquelas faxinas em casa. E claro, limpando gavetas e caixas e os compartimentos secretos do seu EU, encontrou cartões, bilhetinhos, lembranças das mais diversas daquela mulher que ele tanto amou e hoje chama “carinhosamente de falecida”. Não me surpreendeu a pergunta, mas a intensidade da dor no seu questionamento: como pudemos ser felizes um dia?
Esse dia deve estar tão distante que nem mesmo ele se lembra quanto tempo realmente faz. Só se lembra da tortura, das brigas, das feridas.
O casamento já havia acabado muito antes da separação se concretizar. Junto com esta pergunta existe uma carga de raiva, de frustração e por que não de culpa? Todos nós em algum momento da vida nos sentimos culpados pelo fracasso de um projeto, principalmente quando se trata de um relacionamento. Infelizmente nos esquecemos que a responsabilidade não é de um só. Se existe culpa, e se você a carrega, saiba que felizmente a sua parcela é de apenas cinqüenta por cento. A outra metade não depende e nunca vai depender de você.
O tempo de luto de cada um varia bastante. Para uns, dura meses ou anos, para outros, semanas ou dias.
O importante, mesmo que leve um tempo maior do que o esperado e desejado, é curar a ferida de verdade.
A maioria das pessoas, na ânsia de suprir a carência e de preencher o vazio, sai desvairada procurando algo ou alguém que lhe economize dor. Outra grande bobagem.
Acaba por cometer os mesmos erros, e o que é pior, atrai para perto de si, pessoas muito parecidas com aquela “falecida”. E aí, o que parecia ser uma saída, te aprofunda ainda mais no labirinto. Isto, porque somos feitos de energia, leva um tempo para tirar aquilo que está impregnado em você há tempos. Isso também se aplica na profissão, no lazer e em tudo o que você fizer.
Aproveite seu tempo de luto para fazer coisas que lhe proporcionem prazer, reflita nas suas ações, aprenda com as atitudes. Em relacionamento talvez não exista certo ou errado. Existe apenas fazer o melhor que se poderia naquele momento. A palavra arrependimento deveria ser substituída por “aprendimento”. Estabeleça uma relação de paz consigo. Ame-se.
Quando a sua relação com você mesmo se torna agradável e estar sozinho não significa estar solitário, é sinal de que o tempo de luto passou e você pode estar pronto para experimentar novas coisas, descobrir novos talentos, viver um novo amor, encontrar a pessoa certa.
Quem foi que disse que existe a pessoa certa? Bem, isso é um outro assunto. Em breve talvez eu possa explicar melhor.