O dia do mundo

Era uma vez o Menino-Sol. Era uma vez a Menina-Lua. Era uma vez o dia em que o Menino-Sol e a Menina-Lua se encontraram. Se encontraram por acaso. Se encontraram por acaso num dia de chuva, onde o Menino-Sol estava de folga e a Menina-Lua não estava preocupada em sair de seu esconderijo diurno.

Nesse dia o Menino-Sol não teve dúvidas. Não havia nada mais importante em sua vida do que iluminar a jovem e inexperiente Menina-Lua. Nossa Menina possuía luz própria, mas não sabia. Tinha medo de saber. Tinha medo de seguir em frente e iluminar-se por si própria.

O Menino, então, perdido na clareza que o cegava, emitia uma luz cada vez mais branca, cada vez mais clara, cada vez mais nítida, para que a Menina ficasse cada vez mais brilhante, cada vez mais linda, cada vez mais Lua.

Até que a Menina começou a se dar conta. Mas tinha medo de saber que estava se dando conta. Tinha medo de acreditar que era verdade. Tinha medo de ver, de olhar para a luz que até agora ela tanto apreciara, afinal, percebeu que a luz tinha um sentido maior.

O Menino-Sol, sem saber o que fazer, reage quase que inconscientemente. Ele ainda não tem certeza. Ainda não pode ter, afinal, a desconfiança dos Astros nem sempre é verdadeira. Mas Ele vive. Ele sabe que vive. E sabendo disso, precisa agir, precisa ser.

A Menina-Lua encontrava a cada dia vestígios da Luz do Sol. A Luz mais branca a perfeita que Ele já emitira até aquele instante. A Luz que era, única e exclusivamente, para Ela.

O Menino chegou a fazer do céu seu jardim perfeito, cheio de rosas coloridas, estrelas e bem-te-vis cantantes. Mas a Menina temia. E seu medo aumentava cada vez mais, pois sabia que compartilhava com o Menino um sentimento tão puro e brilhante quanto a Luz dos dois.

Mas Ela não pode resistir. O medo atrai fantasmas. Cria fantasmas. E os fantasmas que Ela criou a fizeram tentar desistir do sentimento que abriga em seu peito. E eles foram mais fortes do que Ela.

Os fantasmas que a fizeram tomar atitudes precipitadas e amedrontadas fizeram o Menino-Sol chorar. Fizeram o Menino querer apagar a sua Luz, deixar de brilhar. Mas Ele percebeu a tempo que nossa Menina simplesmente ainda não se deu conta de que, sem a Luz branca e pura que o Sol tanto insiste em emitir, Ela também não brilha, e que se um se apaga, o outro também deixa de mostrar sua beleza ao universo finito, mas sem limite.

Kamila Babiuki
Enviado por Kamila Babiuki em 29/08/2008
Reeditado em 27/09/2008
Código do texto: T1152531
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