Confissões de uma paulista nostálgica

Eu sou uma pessoa altamente urbana, daquelas que precisam de uma organização hierárquica atrapalhando a vida e poluição entupindo os poros para ser feliz.

Gosto de saber que se eu precisar de um restaurante Tailandês às 3 horas da manhã, ele estará lá.. por mais que não faça nenhum sentido, por mais que eu nem goste de comida tailandesa, por mais que seja mais coerente precisar do disk whisky às 3 horas da manhã, a presença do restaurante Tailandês dá a sensação de tranqüilidade, basta você querer e pronto.. lá está ele.

A exposição em excesso a lugares verdes me angustia, tenho crises de abstinência de civilização em paraísos ecológicos, ataques de pânico ao pensar em lugares onde meus 2 celulares não funcionariam.

Minha idéia de programa relaxante envolve um aglomerado de pessoas, botecos com decoração duvidosa e música em volume ensurdecedor.

Ahhhh! Quem não se acostuma e até chega a se afeiçoar ao trânsito na marginal às 6 horas da tarde? Passa a ser o seu ritual, aquele momento onde secretamente, você pode ouvir todos seus cd´s com músicas ruins, sem o olhar apreensivo da sociedade.

O gás carbônico enchendo nosso pulmão… aquela adrenalina que invade nossas veias de tanto medo de ser vítima de um seqüestro relâmpago… Aquele porra do lado gritando: “OLHA O MINDUIM” “ISQUEIRO DOIS REAL, DOIS REAL, DOIS REAL”… O esquecer de virar a esquerda e ter que andar mais 10 km para conseguir fazer o retorno.

Pessoas amáveis ao seu redor gritando como uma gralha: “VAI SE FODER!”, sem nenhum motivo aparente… Aquelas crateras que brotam no asfalto, acariciando o carro… aquela carreta monstruosa soprando amor na forma de fumaça preta.

Motoqueiros educados fazendo o grande favor de arrancar aquela saliência inútil chamada retrovisor, e depois ainda passam xingando a mãe… O cuidadoso motorista de ônibus, com toda sua habilidade e perícia, dirigindo seu pequeno meio de transporte como se fosse um esguio fusca…

A linha azul do metrô lotada, filas inconcebíveis, mas tudo bem.. você pode tomar alguns cappuccinos enquanto espera para se apertar dentro do vagão e escutar diversos discursos envolvendo “eu podia tá ‘matano’ eu podia tá ‘roubano’, mas tô aqui vendendo essas incríveis balas de goma”… E quando você está estressada.. quando o excesso de civilização e trânsito te incomodam.. você vai pro litoral, junto com todos os outros paulistanos estressados… e lá está o cara do “minduim”, do “isqueiro”… e o engarrafamento..

Tranqüilidade pra que? Viva a vida urbana!

Maahh
Enviado por Maahh em 26/08/2008
Código do texto: T1146643
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