“O DIA DA FATALIDADE – 30/04/08”
Era uma quarta-feira à tardinha e cumpria meu último compromisso do dia. Quando senti um enjôo, algo amargo, que subia para minha garganta; Eu não sabia o que era. Sentia-me aflita, era uma sensação de vazio, uma insegurança em relação a algo que nem mesmo eu sabia o que era.
Estava na rua sozinha e o mal-estar continuava com muita ansiedade, que aumentava á cada segundo. Fui para o carro e lá fiquei esperando que passasse, mas novamente senti algo estranho.
O ar parecia não estar entrando direto em meus pulmões, e a angustia chegava novamente, uma pressão no peito, como se algo ruim tivesse para acontecer. A sensação era extremamente desconfortante.
Era como se uma energia estranha, uma onda gigantesca me envolvesse por inteira. Lembrei-me imediatamente da empresa onde trabalhava, veio uma série de pensamentos horríveis, como uma nova invasão de aluno, pois a Faculdade estava fechada e nós professores em greve, sem receber salários a mais de quatro 4 meses. Eu estava à frente, respondendo para imprensa, alunos, professores e terceiros, porém não tinha uma solução para o caso, tendo em vista que a proprietária havia sumido. A única resposta que poderia dar é que todos rezassem para que a empresa fosse vendida, não tinha outra solução.
A crise se sucedia mais uma vez, o medo era enorme que inexplicavelmente deflagraram em meu íntimo. Fiquei quieta sentada dentro do carro, tremendo como se estivesse com muito frio, procurei me concentrar para chamar alguém para me ajudar. Mas não conseguia, pois parecia que tudo se movimentava ao meu redor. Fiquei completamente alheia e desesperada. Não conseguia pegar o celular, tinha a sensação de estar sem tato.
Pensei comigo, acho que estou morrendo. Minhas mãos e todo o meu corpo tremiam e eu suava muito. Era como uma onda gigantesca me levando para o fundo do mar.
Fiquei muito nervosa, eu me esforçava para não sentir aqueles inexplicáveis sintomas, mas minha mente não obedecia.
Tomada pelo desespero, o meu desejo era fugir, correr para algum lugar seguro onde pudesse estar com pessoas em que me ajudassem. Senti vertigem, como se estivesse para desmaiar e uma taquicardia. Achei que estava enfartando. Eu estava empapada de suor, senti muito enjôo e a boca muito seca.
Eu não sabia o que fazer, e era dominada por aquele pavor crescente que quase me sufocava. Naquele momento apenas tinha medo de morrer, pois tinha a certeza que não tinha ainda cumprido minha missão na terra. O pior de tudo era a sensação de pânico, um pavor que parecia se espalhar por dentro de mim como uma mortalha gelada. Até pensei, será que morri e não estou percebendo.
O medo era tão grande que eu não conseguia me mover e pedir socorro a alguém. Estava paralisada de tanto pavor. E os sintomas aumentavam á cada segundo, aquele medo parecia devorar-me de dentro para fora.
Quando finalmente, um colega de profissão chegou próximo ao carro e me encontrou enroscada como fosse um feto e minha respiração ainda ofegante. Minha roupa estava toda encharcada de suor, parecia que tinha tomado um banho de chuva. Estava exausta física e emocionalmente. Assim fui ao médico, e lá foi diagnosticado que estava com síndrome do pânico. Iniciei o tratamento naquele dia fatal.
Naquela tarde, tudo começou: eu só chorava, não dormia, não sentia vontade de fazer nada, com medo de voltar a sentir tudo aquilo novamente.
O tempo todo eu tinha medo de sentir medo, fiquei escrava do meu próprio medo e enxergava o mundo como uma condenada, prisioneira da angústia e da tristeza que parecia devorar-me a cada dia.
Esta crise me deu por várias vezes, sempre vinham à falta de ar, tremores, sudorese, a sensação de deixar o corpo e as ondas de calor e fio e o medo de enlouquecer.
Passados três meses messes de tratamento, neste ultimo domingo fui ao Supermercado, sozinha, pois estava me sentindo muito bem, e novamente a crise voltou, mas com a Graça Divina bem mais calma, não foi tão horrível como as das outras vezes.
E para finalizar, aquela empresa a qual me doei por inteira, me demitiu por abandono de emprego, pois Síndrome de Pânico, não é doença.
(Graciela da Cunha)
Santa Maria/RS - 22/07/08
Conto publicado na Antologia dos poetas virtuais.