BOLO DE AMOR

-Meu bem, que trem esquisito é esse, enrolado na toalha?!

-É o despertador que enfiei no armário, para você dormir mais um pouquinho, querida.

-Eu hem! Parece macumba!

-Êpa! Eu nunca mexi com isso, não!

-Nem eu.

-Uai! Então, o que é que você fez para me pegar?

-Nada. Só pedi a Deus um moreno alto, de olhos verdes e Ele me atendeu.

-E o que é que você botou naquele bolo esfarelado, que levou para mim?

-Foi muito amor e ele ficou fofinho. Aí, enrolei-o num pano de prato clarinho, o mais bonito que a mamãe tinha, peguei a minha Caloy e fui. Na rua do Camilão, trombei com outro ciclista e o bolo caiu no chão, debaixo de mim. Briguei com o moço, não por conta dos meus joelhos e cotovelos ralados, mas, do bolo, que eu havia feito com tanto carinho.

-E daí?

-Uai! Esqueceu? Cheguei à sua casa, muito sem graça e nem queria mostrar o bolo, mas sua mãe insistiu tanto.

-Prossiga.

-E o comemos às colheradas.