Caio e Isabel
Caio foi um jovem pobre, porém inteligente, teve poucas oportunidades na vida, mas aproveitou todas, estudou muito, foi um dos poucos privilegiados da camada popular a cursar uma universidade pública. Agora Caio estava com vinte e três anos era o diretor do departamento de contas a pagar, cargo que conseguiu a custo de muito suor e horas a fio de trabalho, era muito admirado e respeitado pela cúpula da empresa.
Apesar de meio calado e por vezes aparentar meio triste Caio era o exemplo para os amigos e os primos menores, nas reuniões familiares ele era sempre o exemplo de homem vencedor, o exemplo de competência, o exemplo de que com trabalho e honestidade pode-se vencer na vida.
Caio estava ali parado, o suor correndo-lhe no rosto, andava de um lado para o outro, os nervos a flor da pele, correu ao banheiro, barbeou-se, cortou-se devido a tremedeira das mãos, tirou as roupas, sentou no chão e chorou.
Isabel tinha vinte e quatro anos, pele morena, cabelos pretos, olhos levemente puxados nas extremidades, apesar de não ser muito alta, jogou no time juvenil de voleibol de um grande clube da cidade, nas vésperas de profissionalizar-se foi para a faculdade de medicina. Era moça bem nascida de família tradicional. Isabel tinha um enorme carisma, sua beleza, sua inteligência e educação aliados aos seus charmosos trejeitos conquistava a todos a sua volta.
Ela entrou na vida de Caio apresentada por uma amiga comum aos dois, depois de alguns encontros os dois eram vistos grudados. Caio logo que pode levou a bela namorada para que seus pais a conhecessem, Isabel conquistou-os de imediato, e foi assim com os tios, que moravam duas casas abaixo na mesma rua e o avô que mesmo bastante doente ria-se muito para Isabel.
O contrario não aconteceu Isabel temia o preconceito de seus pais, Caio sofria com isso, motivo para as primeiras e inúmeras discussões do casal, passado alguns meses uma visita de Caio aconteceu, os pais de Isabel o trataram com bastante educação, mas também com bastante frieza.
Depois que Isabel entrou na vida de Caio caiu nas graças da família do rapaz, todas as reuniões familiares de Caio lá estava Isabel, ovacionada por todos, os primos mais jovens adoravam-na, ela paciente quando não estava jogando vôlei com a meninada estava por baixo da pilha de pernas, braços e sorrisos. Os sogros tratavam-na como a filha que nunca tiveram, o cardápio do domingo era escolhido por ela. A arrogância dos pais da moça para com Caio foi ignorado pelos pais deste, a única coisa que importava era que ela era um anjo abençoado na vida do filho.
Depois que Isabel foi vista na festa de final de ano da empresa, Caio passou a ser o rapaz de sorte de ter uma mulher maravilhosa ao seu lado, cansou de ouvir elogios a namorada.
Caio sempre foi uma pessoa calada, fechada, mas de uns tempos para cá a coisa piorou, o que Isabel esbanjava de felicidade e simpatia, ele tinha de melancolia e introspectividade.
Na empresa ele tornou-se grosseiro e impaciente, motivo que a diretoria achou por melhor dar-lhe férias, que foi muito contestada pelo rapaz.
Isabel tentou elevar o ânimo de seu namorado, porém todas as suas tentativas foram frustradas até hoje, ela recebeu uma ligação de Caio, em lágrimas, pedindo para vê-la.
Caio andava de um lado para o outro, no rosto além da barba por fazer apresentava enormes olheiras, trajando apenas uma calça de pijama de flanela, mãos trêmulas e respiração ofegante, tentava raciocinar.
_ Você acabou com a minha vida! Entrou nela e a dominou! Você a roubou de mim, é isso ! Você é uma ladra! Uma ladra! Sua árvore de natal ambulante! Quer toda a atenção para você não é, hein?
Caio esbravejava essas frases para Isabel caída a porta, na cabeça um ferimento mortal feito por um extintor de incêndio que repousava dentro da poça de sangue.