Regina como ela só
Regina era uma girafa. Uma girafa daquelas: tinha as pernas compridas; as patas fortes; o corpo pintado como ele só; e o pescoço looongo, que a possibilitava alcançar, com sua superlíngua, as folhas mais altas, verdes e saborosas. Mas Regina não era só isso, não era só uma girafa de pescoço looongo. Regina era também uma cantora!
Semanalmente, apresentava-se no Savana Auditorium, onde muitos animais artistas costumavam fazê-lo. Esplêndidas, eram assim as apresentações de Regina; e no final de cada uma delas, ela era aplaudida, elogiada e assediada por fãs – que estavam sempre ávidos por autógrafos.
Mas Regina, por um motivo que talvez só ela saiba até hoje, estava louca para ser ainda mais famosa, porém, quase não dava a mínima para seus fãs – que a haviam colocado em tão alta posição.
- Não tenho tempo para eles – dizia Regina.
- Mas Regina, é graças a eles que você tem todo esse sucesso! – disse sua amiga, a hipopótamo Lidiane.
- Argh! – respondia Regina.
Lidiane não se conformava com a indiferença de Regina para com seus fãs idólatras.
Provavelmente, devido a isso, a lenta decadência de Regina no Savana Auditorium veio, e, aos poucos, ela começou a percebê-la – mas não o motivo.
Regina não podia decair, pois, em sua concepção, era uma ótima cantora e seria melhor ainda. E quem eram aqueles animaizinhos que não gostavam mais de suas apresentações? Ela agora precisava inovar de alguma maneira, para que pudesse ter seu sucesso outra vez, e para isso era capaz de quase tudo. Quase tudo, nada; era capaz de tudo, mesmo.
Então pensou, pensou e pensou. Pensou tanto que chegou a esquentar-se. De repente, a lâmpada acendeu-se.
- Eu posso começar a dançar! – disse, mais feliz por ter encontrado uma solução.
Lidiane ouviu-a e lhe disse, entusiasmada:
- Agora só é preciso arranjar um professor!
- Que professor que nada! Posso muito bem aprender sozinha! Onde já se viu, euzinha, Regina, aprendendo com um professor!? Por favor, Lidiane, poupe-me! – disse a cantora.
Lidiane ficou chateada e foi para o rio.
Regina, então, pôs-se a dançar, para a próxima apresentação dançante...
Um mês depois, Regina sentiu-se preparadíssima para se apresentar novamente e deixar todos com os queixos caídos. E realmente, todos ficaram…
Regina subiu no palco, encarando a platéia que não via há algum tempo, e que havia passado a desgostar. Abriu bem a boca e começou a cantar, aos poucos, foi mexendo-se, numa espécie de dança girafal. A platéia admirou-se, pois nunca havia visto tal dança, e esperou para ver como seria o termo.
Regina cantava e sapateava e pescoçava, cantava e pescoçava, sapateava e pescoçava, pescoçava e pescoçava. Estava dando um show! E pescoçava.
Sua performance estava chegando ao termo, e, para finalizá-la, Regina deu três piruetas, precedidas de cinco pescoçadas e parou numa pose também girafal. Nem se deu conta do porquê, mas foi aí que a platéia riu. E riu com gosto.
O pescoço de Regina tinha um "nó nodoso"!
Ela ficou morrendo de vergonha; de laranja, pulou para acerola. O macaquinho Juninho falou, da platéia:
- Regina, meu tetravô é ótimo em desatar nós, ele é curandeiro! E você vai precisar de um curandeiro, ainda mais com um nó exibido desse!
- E você acha que eu, euzinha, Regina, preciso que um curandeiro me desate esse nó? Estou ótima, vocês é que não vêem porque não sabem apreciar arte de verdade!
E com essa deixa Regina saiu, nodosa e com pose (bem Regina de ser); mas o fez e nem ligou para a platéia.