O camundongo no meu sofá
Gosto de acordar antes de todos em casa. Gosto de curtir os momentos de serenidade que o amanhecer me proporciona.
Estava sozinha. Marido viajando e o filho na casa da avó. Tenho uma rotina.
Abro as janelas de par em par (adoro sentir a brisa da manhã). Vou até o portão pegar a Zero Hora(nosso jornal local). Preparo o meu café.
Aliás, eu já mencionei que enquanto não tomo minha cafeína com leite sou perigosa? De fato o humor é negro, apesar de toda a serenidade de uma manhã eu acordo um poço de fel. Deve ser a dualidade de ser uma geminiana...
Então munida de jornal e uma caneca quente de café com leite (não importa se inverno ou verão o café tem que ser quente) eu rumo para a sala, ligo a TV. Confesso adoro uma futilidade. Ana Maria Braga, talvez um canal de fofocas dependendo de quão mordaz possa estar o meu humor.
Fiz careta ao avistar a manta do sofá encolhida no meu canto preferido. Preguiça. Antes de deitar eu sempre deixo a sala organizada, a cozinha limpa etc. Coisas de uma patroa resmunguenta... Ainda bem que estava brava comigo mesma e não tinha ninguém (mais tarde tudo o que eu queria era que meus homens estivessem em casa) para ouvir meus resmungos. Grunhindo um pouco joguei o jornal sobre o pufe e com a mão livre levantei a manta com um gesto brusco.
Virgem Maria!! Um camundongo!! Embaixo da manta!
Toda arrepiada fiquei olhando para a cara dele, e ele olhando para a minha. Os olhos me fitando francamente, o bigodinho agitando-se como se tivessem vida própia! Fui saindo lentamente. Igual aos mocinhos e mocinhas do cinema, que ao se encontrarem em perigo, frente a um furioso urso, saem de mansinho, de ré e quase não respirando. Apesar de achar que aquela tática adotada nunca funcionava, por que bastava virar um pouquinho para frente e o bichão feroz se botava a rugir e correr atrás da desafortunada vítima. Mas foi o que fiz. Fui saindo lentamente, sem tirar os olhos da fera sobre o sofá.
O camundongo continuava me fitando imóvel (na certa preparando o bote pensava eu).
E agora? E agora? Pensava desnorteada. As mãos tremendo (já havia entornado todo o café na blusa limpa). Fui para a varanda, por nada deste mundo eu iria entrar em casa de novo! O que eu ia fazer? Será que ele ainda estava lá? Ou pior será que havia se escondido em algum buraco? Meu Deus será que ele tinha assistido ao filme comigo ontem à noite? E eu pensando que só havia eu e o Rodrigo Santoro na sala!
O que fazer?O que fazer?
Já sei vou ligar para o meu marido. Quem sabe ele mudou de idéia e já esta voltando? Entrei... Pé por pé, bem quietinha. Putz! O maldito continuava lá, no mesmo lugar(por certo vendo a Ana Maria).
Menos mal, raciocinei que assim era melhor. Mais fácil de combater o inimigo quando a gente sabe onde exatamente ele está.
O problema era que para pegar o telefone eu precisava passar por ele. O celular estava no quarto, e para chegar até o quarto eu precisava passar bem pertinho da sala. Não importa que houvesse uma paredinha de tijolos transparentes, era perto mesmo assim. Passei correndo, agarrei o celular e me mandei para a rua de novo!
Quem disse que o atencioso do meu marido atendia? É sempre assim, o homem nunca faz falta. Isso de não fazer falta é brincadeirinha. Viu amor? É bom eu pautar isto para o caso de ele ler.
Então justamente quando mais preciso dele, ele some! Típico! O raça triste! Bem que minha mãe me avisou, não espere muito deles...
Droga de telefone! Já sei vou ligar para a minha amiga, talvez ela tenha alguma idéia!
Ela me deu muito apoio. Ficou comigo no telefone o tempo todo enquanto ia dando as dicas mais descoladas a respeito de extermínio de camundongos! Pena que nada que ela falou dava para fazer.
Primeiro, colocar o Bartolomeu (meu gato) lá. Não ia dar certo por que lê não estava lá. Eu o levei justo na noite anterior para a veterinária, ele ia passar a noite lá. Aposto que foi ele que combinou com o rato, só para que eu o ache imprescindível!
Segundo, pegar uma vassoura e espantar o horroroso. Isso nunca, bem capaz! Imagina se eu ia entrar em conflito direto com aquela criatura.
Terceiro, vir para a casa dela (ela não podia me buscar, seu carro estava na oficina). Isso também não dava, porque eu havia perdido a chave do portão. Dá para acreditar?
Pronto. Me sentei na escada, vou ficar aqui até alguém aparecer. Tanto faz que só à noite. Eu não vou lá. O máximo que vou fazer é ficar de olho na porta, o que eu quero agora é que ele fique lá dentro!
Era quase meio dia, improvisei um banquinho de tijolos para poder subir e espiar a criatura, que agora parecia não estar gostando dos desenhos animados e resolvera dormir. Lá em cima do meu sofá.
De repente vejo a Mauá (minha cachorra linguicinha) entrar sorrateiramente pela porta, ela ladina vai até a comida do Bartolomeu ( agora eu entendo por que o gato não engorda, a safada está comendo a comida dele).
Não encontrando nada, resolve dar um giro pela casa, sempre disfarçada e com andar sorrateiro ela vai xeretando em tudo, enfiando para valer o fuço em tudo que alcança (danada). Confesso que nunca simpatizei muito com ela.
Mas espera aí... Ela viu o camundongo! Deu uma corridinha veloz e rebaixada, pulou (não sei como fez aquilo já que é gorda feito uma foca) e pegou o rato!! Juro!! Segurou bem de leve a criatura e chispou para fora com ela entre os dentes.
Minha heroína!! O que eu faria sem aquela cadela caçadora? De uma hora para outra passei a simpatizar loucamente pela cadela foca. Se não fosse por ela eu estaria lá na rua, morrendo de fome, de frio, de medo, de vontade de fazer xixi, de ver TV...
Em fim, nem me pergunte onde ela enfiou o rato, eu não quis saber... O que me interessa é que ela me salvou!!! Mauá minha heroína.