Tarde no lago

Era uma tarde ensolarada e completamente quente, um dia quase irrespirável de tanto que o calor sufocava. Inspirando e expirando pelas narinas um bafo quente que fazia o corpo arder como se estivéssemos febris. Cheiros adocicados que pairavam pelo ar, me perseguindo. Fomos ao Gasômetro, na beira do Lago Guaíba, à procura de distração nessa tarde calorosa que parecia se arrastar devido ao clima do Sul.

Risos de crianças brincando no lago. Das suas águas arrancando carícias inusitadas, como se roubassem de lá suas próprias risadas.

Poucas sombras à beira do lago, disputadas pelas pessoas que por ali estavam, e aos poucos o sol tomava conta das que restavam, afugentando as pessoas do seu intenso calor. Os óculos escuros pareciam nada proteger do reflexo dos poderosos raios solares.

E ali estávamos nós, nos espremendo na pouca sombra que restava, tomando chimarrão e comendo passatempo. A moleza tomando conta do corpo e da mente devido ao intenso calor insano de fevereiro. Ao findar do último resquício de sombra decidimos passear de barco por entre as ilhas do Guaíba.

O lago exalava um frescor, afastando de leve o demasiado sabor quente da tarde. Senti vontade de deitar numa rede e ali adormecer. Sentia os lábios salgados por causa do suor. Crianças resmungando com os pais, um cachorro latindo, deve ter sentido medo do balançar do barco, coitado! Alguns apitos soaram, era o capitão avisando que íamos zarpar e iniciar o passeio, e lá fomos nós, lago a dentro.

Sol no rosto, a brisa refrescante se fora e o bafo veranil voltou a tomar conta. O homem do barco falava ao microfone palavras incompreensíveis durante o passeio, falava sobre as ilhas e citou o ex-presidente Getúlio Vargas, o som era péssimo já que ali não havia acústica nenhuma. Descemos para o convés inferior, fomos à proa, lá estava um delicioso vento sul, refrescando os corpos e a tarde começava a mostrar o seu lindo findar.

Às vezes sombra, às vezes sol, por entre as ilhas íamos sendo guiados, ouvindo apenas os barulhos do lago. Jet skys passando apressados, lanchas, pequenos barcos de pescadores locais, pássaros voando e mergulhando para pescarem peixes, risos das pessoas e o leve ronco do motor do barco em que estávamos. O sol aproximava-se das águas, ali refletindo seus raios. Nós ríamos e tirávamos fotos. Passamos pelo cais com seus armazéns, vários navios ali atracados, mostrando suas ferrugens, revelando suas idades.

Já estávamos chegando ao ponto de partida, agora lá na parte de trás do barco, podíamos ver a cidade nos sorrir com seus braços abertos, então pude entender que realmente podemos dizer que moramos num Porto Alegre!

O barco atracou, aos poucos fomos desembarcando. Sentamos nas pedras na beira do lago, mais precisamente na prainha do Gasômetro. Mais algumas cuias de chimarrão. Olhar o sol cada vez mais próximo das águas, seu reflexo cegava de tão brilhante. Mais fotos para não termos a chance de esquecermos daquele momento que provocava uma sensação tão gostosa e relaxante, a qual não deveria ter fim.

E assim a tarde passou. Agradável tarde no lago, num dia de verão em fevereiro em um Porto tão Alegre quanto uma imaginação, um gostoso devaneio. Fomos para casa, e na memória guardamos a adocicada tarde, onde ficamos ali vendo nas águas do Guaíba a luz do sol refletir e sentindo seu balanço e sua brisa refrescar, talvez fosse Iemanjá timidamente a nos sorrir!

OBS: DEDICO ESSE CONTO A UMA AMIGA MUITO ESPECIAL E RISONHA - CAROL!!

Lilith Góthica
Enviado por Lilith Góthica em 06/02/2008
Reeditado em 06/02/2008
Código do texto: T848396
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