Festeira
- Dorinha, o café tá pronto, senta aqui, venha ver essas fotos. Eu tenho caixas e caixas de álbuns, são relíquias. Antigamente eu gostava de imprimir as melhores fotos. Anotava no verso a data e qual tinha sido o lugar, aniversário de quem. Fui perdendo esse hábito com o tempo. Agora tenho centenas tiradas com celular, espalhadas em nuvens, fotos que ninguém vê, das viagens, dos amigos, das festas, eu andei fuçando, salvando em pastas, mas não dei conta, é muita coisa.
- Mariah eu adoro ver suas fotos. Você tem as melhores histórias. Na última vez que almoçamos juntas quase passei mal de tanto rir. Você contando sobre a escola, que matava as aulas, pulava muro, ia para casa das amigas, não avisava, uma filha para causar desespero em qualquer mãe.
- Minha mãe era tranquila. Quem ficava inconformado comigo era meu pai. Ele diz que até hoje tenho alma de criança bagunceira. Ele reclamava, mas depois eu acabava conquistando o coração do velho e ele entrava na minha. Quero te mostrar as fotos que tirei no casamento com meu ex-marido. Eu usando véu e grinalda casando em uma boate. O casamento durou longos dois anos, mas não me arrependo de nada.
- O Amílcar é muito legal. Um cara chato não iria gostar de saber que você guarda as fotos do ex.
- Ele sabe que antes de me conhecer eu tive uma vida, sabe que eu adoro guardar lembranças, contei para ele que eu namorei bastante, fui casada, viajei, sai muito para dançar, tomei uns pilequinhos e tá tudo certo. Nós construímos uma família desde que começamos nosso namoro. E ele também foi casado antes, separou, viajou, enfim, viveu.
- Olha essa daqui. Meu pai entrou junto comigo na boate. Quando eu contei para ele onde queria fazer meu casamento ele achou que fosse piada. Ele levou um tempo para me dizer que topava. Fiquei dias esperando uma respostas que poderia inclusive ser um não, ele me chamou de moleca, mas aceitou. Disse que era difícil acreditar que meu marido da época tinha topado essa doidice.
-Deixa eu ver essa!
- Eu escolhi entrar com dois sobrinhos grandinhos, usando roupas que alugamos, não queria daminhas. Não tive padrinhos nem madrinhas. Cada um podia ir vestindo a roupa que quisesse. Contratamos uma mestre de cerimônias, assinamos no cartório a certidão de casamento dias antes da festa. Na verdade eu tinha vontade de me casar em uma capela em Las Vegas, mas meu ex achou que daí já seria demais. Fazer uma festa em outro país seria inviável para meus pais, parte dos amigos, da família dele, daí deixei essa ideia para lá.
- E os convidados o que acharam quando você mandou convite ?
- Convidei por telefone meus amigos mais próximos e minha família e a dele. Foi quem tinha vontade de ir e quem gostava do casal. Sem imposições. Te garanto que a festa foi boa. Um bom motivo para se casar é organizar uma mega festa.
- Só você, Mariah!
- Tem mais. Um amigo meu querido, o Antoniel, que era DJ profissional me deu de presente a discotecagem. Depois da fala da cerimonialista eu estava super emocionada, troquei por um vestido mais leve também branco e os sapatos, dancei a noite toda. Os vestidos eram bonitos e também alugados, nada caro. Uma das minhas escolhas que deixaram os convidados surpresos foram o cardápio, escolhi servir pizzas, em fatias, uma delícia. Eu me diverti muito e o meu marido da época também.
- Você conversa com seu ex?
- Sabe que nós nunca mais nos falamos depois do divórcio. Não porque eu tenha ficado com raiva dele, mas porque não temos assunto. Não tivemos filho. As nossas vidas foram para direções muito diferentes. mas ele é um cara legal.
- Casamento numa boate com DJ e com pizza sendo servida! Isso eu nunca vi.
- Ao invés de escolhermos oferecer um jantar contratamos uma empresa que fazia pizzas maravilhosas, com recheios variados, e levou o forno elétrico e tudo mais. De tradicional mesmo só a mesa de docinhos e o bolo, que nem era muito grande. No bar os garçons serviam drinks alcoólicos e sem álcool, o serviço de preparação e a decoração dos copos eram um espetáculo.
- As fotos estão lindas. Você aparece em todas com um sorriso enorme!
- Sim, eu estava radiante de felicidade, sabe contratamos um casal de fotógrafos. Não me lembro os nomes deles, fizeram um bom trabalho.
- Depois de um casamento tão incomum vocês passaram a lua de mel onde?
- Fomos para o litoral, tínhamos alguns dias de folga. Eu poderia pegar uns dias de férias, mas ele na época, não. Então decidimos juntos tirar apenas uns dias para ficar na casa de praia da família dele que estava vazia. Preferimos aguardar para fazer uma viagem juntos no fim daquele ano. Foi tudo muito bom.
- Você tem as melhores histórias!
- O casamento não durou grande coisa. Não brigávamos muito nem nada. Aos poucos vi que tínhamos objetivos de vida muito diferentes, eu passei a ser madrasta e na época não soube lidar muito bem com isso. As duas crianças eram novinhas, não ficaram bem com a saída do pai de casa, mesmo os pais dividindo a guarda deles. Nem digo que os filhos dele foram um problema. Acho que eu e ele não soubemos lidar bem com o caminhão de questões que foram surgindo com a nossa convivência. Hoje em dia sou mãe e consigo imaginar que para ele não foi fácil e para os filhos dele, também não. Ele era um pai muito amoroso, deve ser ainda.
- Você e o Amílcar combinam tanto que nem consigo imaginar você casada com outro homem, parece que isso aconteceu em outra vida. Conheci você quando o namoro de vocês tinha pouco tempo. Acompanhei sua gravidez depois de muitos anos de casamento, o nascimento do Thales, e tantas festinhas de aniversário, almoços, natais. São mais de vinte anos de amizade.
- É, Dorinha, você é mais que uma das minhas melhores amiga, é uma testemunha da minha história.