O revolucionário

Onírico Gentil vivia num mundo de fantasias maravilhosas, onde construía uma rede solidária universal, e era difícil imaginar pessoa mais agradável. Na repartição, os iguais o queriam como chefe, e os superiores o queriam como assessor. E Gentil vivia ajudando, ajudando, apenas pelo prazer de ajudar. Um dia o lançam na política. Onírico filiou-se ao Partido de Ninguém, e sua candidatura saiu vitoriosa. O município não era dos pequenos, e, na Câmara Municipal, o representante do PN surgiu com a lei antimendicância, que previa um fundo municipal para assistir os que moravam nas ruas. O fundo só teve adesão do autor, e Onírico, com os vencimentos invultosos da vereança, começou sua campanha sonhadora de sepultar de vez a pobreza em Corações Armados. Todo mês repartia quase tudo que ganhava com instituições beneficentes ou com aqueles que buscavam ajuda no gabinete do vereador. Foi por tudo isso que Onírico passou a ganhar olhares ressabiados e uma cruel indiferença na Câmara, só compensados pela gratidão dos eleitores, já prontos para reelegê-lo. Um dia, em campanha, ia pelas ruas e lugares mais pobres, recebendo olhares carinhosos, agradecidas saudações e súplicas pungentes, quando foi surpreendido por um fatal projétil nas costas.