Cena paulistana
Domingo de manhã na estação Sé do metrô.
Uma passageira idosa entra no vagão.
Ela se senta ao lado de uma mãe com seu bebê.
O anjinho está dormindo, bem protegido.
É bem novinha a criança, recém-trazida pela cegonha.
O metrô prossegue rumo à estação Jabaquara.
Depois de algum tempo a mulher diz à mãe:
- Seu nenê está vestindo uma roupinha amarela e usando touca.
- Sim, diz a mãe.
- Desse modo não sei se essa criança é um menino homem ou uma menina mulher. Ou se seria coluna do meio, tão na moda hoje em dia.
- Minha senhora, desculpe sua curiosidade, mas esse gênero de dúvida eu não comento.
- Ao menos o nome você pode dizer?
- Posso: é Haikai.
- Haikai? O pai é certamente chinês então.
A mãe nada diz.
A velhota não aprecia o silêncio da outra e resmunga.
O operador do metrô informa a parada na estação Japão-Liberdade.
A mãe desce, vai-se com seu bebê e uma sacola.
A idosa fica pensando:
"Bebê de roupa amarela
pode ser cavalheiro
e também pode ser donzela."
Depois se lembra da lasanha
para o almoço de logo mais.
Ah, ainda precisa comprar mussarela...