Carta do Paiol
Bimeleque, meu único amigo e irmão. São trinta anos contados desde que partistes, tive notícias que estás bem, que vencestes na vida. Eu não dei em nada. Sabes o amor? O amor me consumiu. Agora mesmo te escrevo do Paiol. Vivo aqui e trabalho feito um cativo por uma gamela de arroz com feijão. De favor. Te lembras de Rosabela? Aquela sapiroquenta, cujo pai plantava feijão? Foi ela quem matou os meus sonhos, me fez juras e agora casou se com um violeiro e mora no Belo Horizonte, longe demais ... Dizem que é feliz e tem um filho que não é meu... Quando ela desmanchou nosso noivado e foi embora... Dei pra beber e fumar... Quando consegui engolir aquela lobeira que fica na garganta de quem ama e perde seu amor... A vida tinha passado... Ela não espera por ninguém... Tinha perdido tudo. Pessoas, oportunidades... A culpa é minha ... Não tenha pena de mim... Não te preocupes também... Não sou alegre e nem triste... Vivo... Desejo que Deus e os três reis magos continuem te abençoando e te dê tudo aquilo que o amor não me deu. Não te esqueças,mano velho, tudo passa sobre a terra... Até nós...