Desafio 13 Entre sonhos e palavras
Julio ajeitou alguns livros e ligou o computador. Leu algumas notícias e fez anotações no seu caderno. Começou a digitar de uma maneira voraz .
Passava as tardes em seu pequeno escritório, cercado por pilhas de livros e papéis amarelados. A luz do sol filtrava-se pelas cortinas, criando um jogo de sombras que dançava nas paredes. Ele tinha um talento especial para transformar a realidade em palavras, mas ultimamente, essa habilidade se tornara uma armadilha.
“Se ao menos as palavras pudessem me libertar”, murmurou ele, olhando pela janela. As árvores balançavam como se estivessem ouvindo seus pensamentos.
Naquela tarde, enquanto escrevia uma cena de seu novo romance, Julio ouviu uma voz suave sussurrar: “Por que não me traz para o mundo real?” Ele se virou, mas não havia ninguém. A voz parecia vir de sua própria imaginação, e ele riu nervosamente. “Acho que estou perdendo a sanidade.”
As horas passaram e a linha entre o real e o imaginário começou a se desfocar. Ele, então, decidiu seguir a voz. “Você é apenas uma ideia, um personagem que criei”, disse ele ao ar.
Naquela noite, enquanto digitava de forma frenética , uma figura feminina começou a ganhar forma em sua mente: Enya, uma musa enigmática que o inspirava. Ela era como um sonho fugaz, masJulio a queria ao seu lado. “Enya, você existe em mim! Venha para o papel!” gritou ele.
Em dado momento da história, Enya finalmente apareceu diante dele em carne e osso. “Você me trouxe aqui”, disse ela com um sorriso enigmático. “Mas agora precisa escolher: viver comigo no mundo dos sonhos ou permanecer preso à realidade?”
Ele hesitou. "Se eu ficar com você, o que será do meu mundo? E se eu nunca mais conseguir voltar? O que será do meu mundo? O que será do meu mundo?" A repetição de suas perguntas refletia seu medo crescente de perder tudo o que havia construído na realidade.
“Você pode ser tudo o que deseja”, Enya respondeu suavemente. “Mas precisa deixar o medo para trás.” Com essas palavras ecoando em sua mente, ele percebeu que a verdadeira liberdade não estava apenas nas páginas que escrevia, mas também na coragem de viver plenamente.
Decidido, Júlio tomou sua decisão: “Eu escolho você!”
Mas ao fazer isso, Enya sorriu de forma fugaz e desapareceu em uma nuvem de palavras flutuantes. Ele olhou em volta e viu seu escritório vazio de novo – os livros sem vida e as folhas em branco diante dele. Ele percebeu com horror que sua escolha tinha sido uma ilusão; ele havia escrito Enya para fora da existência.
A realidade se instalou quando ele entendeu que ao tentar trazer a vida à sua criação mais amada, acabara por perder tudo – inclusive a própria capacidade de sonhar.
Julio queria tanto trazer Enya para sua vida real que acabou perdendo-a por completo e a sua capacidade de criar aquela história.