A restauração A Transfiguração de Cristo, de Raphael Série: O restaurador
Geralmente ele preferia a discrição. Um canto longe dos laboratórios e holofotes para trabalhar em paz. Mas A transfiguração de Cristo, de Raphael além de ser famosa estava sobre olhares não apenas da igreja, mas da mídia em si. Entregar nas mãos de um restaurador que não gostava de aparecer uma obra daquela magnitude era de uma irresponsabilidade tremenda. Isso era o que diziam por aí. Mesmo que esse restaurador tenha trabalhado em grandes obras dos Mestres Antigos. Mestres como Caravaggio, no qual ele era considerado um especialista.
De sua parte ele nada disse. Aparecia no laboratório da Pinacoteca do Vaticano e fazia seu trabalho. Não tinha horário fixo. Poderia chegar cedo e sair no começo da noite como poderia passar a madrugada toda lá dentro. Sua presença era apenas captada pelas câmeras. O diretor da Pinacoteca aparecia, conversava e tentava arrancar dele mais velocidade para terminar a obra. O restaurador apenas sorria e dizia:
Ficará pronta quando o quadro quiser.
Diziam que uma obra daquela magnitude levaria cinco meses para ser restaurada. Talvez não ficasse como era originalmente devido ao tempo. O restaurador levou onze meses. Todos estavam impacientes.
Mas o restaurador se desligava do mundo e dedicava- se a Tela. Era ambidestro, quando a mão direita cansava de pincelar, trocava para a esquerda e não se via diferença. Cuidou para encontrar o tom certo de cores, a remoção do verniz e a cobrir alguns traços que haviam desaparecido.
No fim, o resultado arrancou assombro de todos. Era como se o próprio Raphael descesse a terra e guiasse a mão do restaurador. Foi um resultado perfeito. Ele foi procurado para receber os parabéns, mas não foi encontrado. Para o restaurador era o momento da tela e do Mestre Raphael. O restaurador não era o artista principal. Por isso só descobriram o quadro pronto quando chegaram numa manhã de segunda e o Quadro estava sobre o Cavalete iluminado por luzes especiais.