Sabor inocente

A chuva fina cai lá fora, e o menino Juan, de dentro do seu quarto, observa atentamente pela janela as gotas que molham o jardim. Ele encosta a testa no vidro frio e acompanha, com os olhos, o percurso lento das gotas que escorrem, como se disputassem uma corrida silenciosa. O cheiro de terra molhada, misturado ao perfume das flores, invade o quarto, trazendo uma tranquilidade familiar.

O aroma doce de bolo de fubá recém-saído do forno perfuma o ar, aquecendo o coração de Juan. O relógio de parede, com seu tique-taque compassado, anuncia que já são três horas da tarde. Logo, sua mãe o chamaria para o café, como fazia todos os dias.

As lembranças vagueiam em sua mente, levando-o para um passado distante, quando sua avó ainda estava viva. A saudade invade seu pequeno coração como uma onda suave, mas constante, e ele sente as lágrimas escorrerem, silenciosas, pelo rosto. A chuva fina continua, e, sonhando acordado, Juan regressa ao sítio Monte José, aquele lugar mágico que visitava com sua mãe várias vezes ao ano, em busca do abraço carinhoso da "vó" Maria.

Eram viagens tranquilas, embaladas pelo balançar do carro na estrada de terra batida, que levantava uma nuvem de poeira dourada sob o sol quente. No caminho, ele adorava observar as paisagens: pequenas matas virgens se destacando entre as pastagens, onde o gado pastava em grupos, movendo-se lentamente pelo campo. O som distante do mugido e o canto dos pássaros faziam parte daquela sinfonia natural, que agora ecoava em sua memória.

Na entrada do sítio, uma porteira de madeira, robusta e envernizada, se erguia como um portal para outro mundo. Acima dela, uma placa amarela, ligeiramente desbotada pelo tempo, trazia o nome "SÍTIO MONTE JOSÉ". O sítio carregava esse nome por causa de um monte florido, à beira de um córrego de águas cristalinas. Ali, entre as flores e o murmúrio da água, repousavam as ruínas de uma antiga casa, onde, diziam, havia morado o velho José, o primeiro dono daquele pedaço de paraíso.

Passando pela porteira, o caminho de terra serpenteava por entre a plantação de milho, que se balançava suavemente com o vento. Ao longe, Juan conseguia ver a fumaça subindo pela chaminé da casinha da "vó" Maria. Ela sempre os esperava na varanda do casebre com um sorriso que era capaz de espantar qualquer tristeza. Era um sorriso que aquecia, que trazia paz, que fazia o mundo parecer um lugar seguro.

— Oi, minha vozinha, tudo bem com a senhora? — perguntava o menino, correndo para os braços dela.

— Oi, meu danadinho, a "vó" está ótima, e muito melhor agora com a sua presença — respondia ela, abraçando-o forte.

— O que a senhora fez para a gente comer? — perguntava ele, com os olhos brilhando de expectativa.

— Aquilo que você mais gosta. Sabe o que é? — respondia a avó, piscando um olho com cumplicidade.

— É claro, né "vó"? Bolinho de chuva! — exclamava Juan, já sentindo o gosto doce e a textura macia em sua boca.

Essas lembranças permanecem vivas na memória do menino, como um filme que ele gosta de ver repetidas vezes. E enquanto ele se perde nessas imagens do passado, a chuva fina continua a cair lá fora, trazendo consigo o som suave de uma melodia que ele conhecia tão bem.

***

Obs, este conto foi publicado a primeira vez em 2012 num Blogspot que eu tinha e ainda pode ser encontrado, mas não consigo entrar, pois perdi a senha e nem lembro do e.mail. No entanto consigo copiar os textos antigos., usando os métodos tradicionais. Fiz uma nova atualização revisada e agora o estou disponibilizando aqui no RL com um novo título.