O tribunal estava em silêncio, exceto pelo leve tilintar da caneta do juiz, que rabiscava notas em seu caderno. A luz do sol filtrava-se pelas janelas altas, criando padrões de sombras no chão de madeira polida. O ar estava carregado de tensão, como se cada espectador contivesse a respiração.
No banco dos réus, Marilda estava sentada com as mãos entrelaçadas sobre o colo. Seus dedos brancos revelavam a pressão que ela exercia. A cada olhar que recebia dos jurados, seu coração pulsava mais rápido, mas ela mantinha a cabeça erguida, desafiando os murmúrios que ecoavam ao redor. Seu olhar se fixou na testemunha à sua frente.
O advogado de acusação apontou para ela, gesticulando com fervor enquanto suas palavras cortavam o ar: “Ela estava Na cena do crime. Você viu o que aconteceu!” As palavras ressoaram como um tambor na sala silenciosa. Marilda fechou os olhos por um breve momento, respirando fundo, tentando se ancorar.
A testemunha hesitou, seu olhar desviando-se para o chão. Marilda percebeu a dúvida no rosto dela — uma sombra de incerteza que dançava entre as palavras não ditas. Um leve tremor nas mãos da testemunha denunciava sua inquietação. Marilda sentiu uma onda de empatia e solidariedade; ambas estavam ali, imersas em um mar de acusações.
Quando o advogado da defesa se levantou, sua voz era calma e quase suave. “A senhora pode nos contar como se sentiu naquele dia?” A pergunta pairou no ar como um convite para abrir as portas da memória.
A testemunha respirou fundo e começou a falar. Sua voz tremia levemente, mas havia uma força crescente em suas palavras. “Era... era um dia normal até ouvir aquele grito...” Ela parou, sua mão subindo involuntariamente ao peito como se estivesse revivendo aquele momento.
Os olhos dela brilharam com lágrimas enquanto continuava: “Eu não sabia... eu não sabia quem era... mas... parecia um pedido de socorro.” Ela olhou para o teto por um instante, buscando coragem antes de prosseguir. “Eu... eu corri até a esquina e vi tudo...”
Os jurados se inclinavam para frente, absorvendo cada fragmento daquela lembrança vívida. A testemunha passou a mão pelos cabelos despenteados e respirou fundo novamente. “Eu vi... eu vi alguém caindo... e não consegui fazer nada.”
Um silêncio pesado dominou a sala enquanto todos processavam aquelas palavras entrecortadas pela dor. O advogado de defesa observava atentamente, anotando cada movimento dela.
Finalmente, quando ela terminou sua declaração, Marilda viu seu olhar encontrar o dela por um breve instante. Um entendimento silencioso passou entre elas — uma conexão forjada na dor compartilhada.
O juiz bateu com seu martelo e declarou intervalo. Enquanto os jurados se levantavam para sair da sala, Marilda sentiu uma onda de alívio misturada com ansiedade. Ela sabia que ainda havia muito pela frente.
Na saída do tribunal, passou pela testemunha que ainda secava as lágrimas com um lenço amassado. Ela sorriu levemente e disse: “Obrigada por ser tão corajosa.”
As palavras eram simples, mas carregadas de significado; um reconhecimento silencioso do peso que ambas carregavam naquele lugar.