O Buraco da Fechadura (Parte 2)

 

Stefany deu mais um passo para trás, sentindo o frio do piso sob seus pés descalços, enquanto a maçaneta parava de girar, como se o tempo tivesse congelado. A casa inteira parecia prender a respiração junto com ela. A adrenalina pulsava em suas veias, cada célula de seu corpo alerta e viva. O corredor escuro a envolvia, mas seus olhos estavam fixos na porta do quarto de hóspedes, a única barreira entre ela e o desconhecido. Ela sabia que deveria sair dali, mas uma força irresistível a mantinha no lugar, como se o destino estivesse brincando com sua curiosidade e desejo.

 

O silêncio se prolongou, denso e pesado, mas não durou muito. A maçaneta voltou a girar, desta vez mais rápido, e antes que Stefany pudesse reagir, a porta se abriu lentamente. Ela prendeu a respiração, esperando pelo que viria a seguir. Quando a porta finalmente se escancarou, o quarto estava vazio, a luz da lua derramando-se pelo chão de madeira polida. O homem havia desaparecido, como se nunca tivesse estado ali, como se fosse uma miragem ou um fruto de sua imaginação. Mas Stefany sabia que o que tinha visto era real – o cheiro dele ainda pairava no ar, uma mistura de madeira e algo masculino que a fazia estremecer.

 

Ela deu um passo hesitante para dentro do quarto, a tensão no ar ainda mais palpável. Cada passo parecia um mergulho mais profundo no mistério que envolvia aquela noite. Stefany caminhou até a janela, onde ele havia estado minutos antes. O ar da noite era fresco, e o som distante de grilos e da brisa entre as árvores parecia surreal, como se o mundo lá fora fosse uma realidade distante, enquanto dentro daquele quarto, outra dimensão se desenrolava. Ela tocou a madeira fria do parapeito, tentando entender o que acabara de acontecer, mas a única coisa clara em sua mente era a sensação inegável de estar sendo observada.

 

Sem aviso, sentiu uma mão quente tocar sua nuca, dedos firmes e ao mesmo tempo gentis que deslizaram por sua pele, fazendo um arrepio percorrer sua espinha. Stefany virou-se bruscamente, seu coração quase saltando pela boca, mas não havia ninguém ali. Apenas o vazio do quarto, iluminado pela luz suave da lua. Ela levou a mão ao pescoço, sentindo o calor remanescente do toque, uma prova inconfundível de que aquilo não era fruto de sua imaginação. Seus olhos varreram o quarto mais uma vez, buscando qualquer sinal do homem, mas o que encontrou foi uma sensação avassaladora de presença, como se ele estivesse em todos os lugares e em lugar nenhum ao mesmo tempo.

 

A mente de Stefany estava uma confusão de sensações contraditórias – medo, desejo, excitação. Ela sabia que algo profundo havia sido despertado dentro dela, algo que não poderia mais ser ignorado. Cada sombra no quarto parecia sussurrar segredos, e ela sentia que o homem, mesmo invisível, estava ali, perto dela, observando-a, esperando. O calor subia por seu corpo, e a atmosfera carregada de tensão a envolvia como uma névoa densa, deixando-a perdida entre o real e o imaginário. Era como se o quarto tivesse se tornado um espaço sagrado, onde o tempo não existia, e cada segundo se alongava, repleto de possibilidades.

 

Então, Stefany fechou os olhos e deixou-se levar pelas sensações. Sentiu a presença dele ao seu redor, como um manto invisível que a tocava em lugares que ela não sabia que poderiam ser despertados. Sua respiração se tornou mais pesada, e seus pensamentos, antes caóticos, se concentraram no único desejo de senti-lo, de descobrir mais sobre aquele mistério que a envolvia. Ela não sabia o que estava por vir, mas algo dentro dela, algo primal e incontrolável, queria avançar, queria descobrir até onde aquele jogo de sombras e luz poderia levá-la.

 

Como se respondendo ao chamado de seus pensamentos, o ar ao seu redor pareceu vibrar. Ela abriu os olhos e viu uma sombra mover-se sutilmente na parede, esculpida pela luz da lua. Era ele, o homem, sua silhueta familiar, agora refletida como uma lembrança de algo que não poderia mais ser ignorado. Stefany se aproximou da sombra, sentindo uma conexão inexplicável. Estendeu a mão, tocando a parede fria, mas sentindo o calor da presença dele, como se estivesse tocando sua pele novamente.

 

Então, a sombra se moveu, sua forma alongada deslocando-se pelas paredes, até se fundir com a escuridão do canto do quarto. Stefany seguiu-a, como se estivesse em um transe, seu corpo respondendo a um chamado antigo e profundo. A sombra parecia guiá-la, desenhando um caminho invisível pelo espaço, até que ela parou diante do espelho, o grande espelho de moldura antiga que decorava o quarto. A imagem que refletia era dela, mas havia algo diferente, algo novo em seu olhar. Um brilho que não estava ali antes, uma chama que havia sido acesa naquela noite.

 

O espelho parecia pulsar com energia, como se fosse uma porta para outro mundo, e Stefany sabia que só tinha uma escolha: atravessar. Ela estendeu a mão para o vidro, seus dedos tocando a superfície fria, mas a sensação que percorreu seu corpo foi quente, envolvente, como se o próprio ar ao redor dela tivesse se inflamado. E então, ela sentiu, como um sussurro em sua mente, a voz dele, baixa e sedutora, chamando-a pelo nome. Stefany estremeceu, não de medo, mas de expectativa. Ela sabia que estava prestes a cruzar um limiar, que o que quer que estivesse do outro lado não era apenas um homem, mas algo mais, algo que estava prestes a mudar sua vida para sempre.

 

No instante em que ela decidiu se entregar àquele chamado, a presença dele tornou-se mais forte, mais real. Ela sentiu os braços dele ao seu redor, um abraço que a envolveu em calor e desejo, apesar de seus olhos ainda estarem fixos no espelho, sem refletir mais do que sua própria imagem. Stefany fechou os olhos, e naquele momento, tudo o que importava era o toque dele, a sensação de estar completa, como se estivesse sendo levada para uma nova realidade, onde o impossível era possível, e os limites entre o real e o imaginário não existiam mais.

 

Leia a o inicio O Buraco da Fechadura

A Sales
Enviado por A Sales em 19/08/2024
Reeditado em 27/08/2024
Código do texto: T8132492
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