Kylmor Coração de Gelo
Em um caro bar 24 horas, a mulher que pagará a conta se senta em frente a um viciado em jogo, e coloca um envelope com 5.000 dólares em cima da mesa, sem tirar a mão.
- E então? Que deseja saber?
- Ele gay?
- Definitivamente não.
- Misógino?
- Há não, ele gosta muito de si mesmo para odiar alguém, muito menos um gênero.
- Fale-me sobre ele.
- John Kylmor é um apaixonado por si mesmo, um narcisista compulsivo, e não tem problemas em admitir isso, ele é um detetive particular tão bom, porque tem alta dificuldade em se afeiçoar a qualquer um muito além de si próprio, logo, não está nem aí para ninguém, então consegue ter frieza para investigar, com calma, até calculista.
- Porque ele não quis ingressar no FBI?
- No FBI é preciso seguir regras, obedecer a superiores, cumprir horários, ele não tem paciência com isso, sinceramente, trabalhando como consultor, as vezes para o próprio FBI, ele ganha mais que eu, que sou agente a 15 anos, e além de nós, ele apura uma grana boa com a CIA, polícia de Nova York, e particulares é claro.
- O que ouve entre ele e a Clar?
- A Clar queria ele, e ele não a queria, ela topou transar com ele sem compromisso, achou que o faria se apaixonar por ela, não aconteceu, ela ficou furiosa, e aceitou se casar com o Dr. Brant para tentar humilha-lo, fazer ciúme, mostrar a ele o que perdeu, que não precisa dele, essas coisas. Não adiantou, então ela começou a persegui-lo, e na outra ponta, o bom doutor estava cada vez mais apaixonado pela esposa, começou a ficar pocessivo, ciumento, controlador, e contratou um assassino para matar o Kylmor, só que ele é ligado, e percebeu que estava sendo seguido. O final você sabe, o Dr.Brant foi preso, e a senhora Clar visita o marido sempre na prisão, ela ainda tem tesão do Kylmor, mas só irá se ele chamar, e já que o Kylmor não quer problemas pra ele, o doutor pode ficar despreocupado atrás das grades.
- Onde ele está atualmente?
- Las Vegas, eu sempre o vejo quando vou lá jogar, aliás é onde vou gastar a grana que você vai me dar, ele está trabalhando para uma seguradora, investigando fraudes, até agora, ele já pegou dois cara e três mulheres.
- Você o visita?
- Mais ou menos, ele está morando no mesmo hotel onde me hospedo.
- Tem alguma mulher com ele?
- Não minha cara, como te disse, John não quer saber de compromisso, o melhor do tempo dele ele usa para si próprio, aquele ali tem coração de gelo.
- Quero o endereço do hotel, e o nome da seguradora para a qual ele trabalha.
O agente do FBI viciado em jogos de azar rabiscou na agenda finamente trabalhada que ela lhe empurrou, com a caneta MonBlanck macia como veludo caro, que ela lhe emprestou. Ela recolheu a agenda e a caneta, e lhe deu o envelope com o dinheiro.
- Aqui tem cem dólares, acredito que pague a conta, vamos manter contato, posso precisar de você.
- Posso fazer uma pergunta?
- Pode.
- Porque esse interesse nele?
A mulher esvaziou o copo de whisky.
- Senhor Clif, sempre tive os homens que eu quis aos meus pés, fiz homens brigarem e se odiarem por minha causa, bem, eu não fiz, eles que acabaram se odiando e brigando, ficou chato, sempre chamei a atenção onde eu fui. Pela primeira vez na minha vida, achei alguém que estava mais interessado em si próprio, do que em mim, até mesmo os homosexuais mais conscientes, me queriam, porém ele, que nem gay é, não deu a mínima para a minha beleza naquela festa, e isso para mim, é um desafio que eu adoro, eu precisava desse tempero em minha vida.
- Por incrível que pareça, eu te entendo.
- É claro que entende, Lucy.
- Como descobriu?
- Acha que eu ia confiar em você sem te investigar? Com você, a corregedoria do FBI tem tido muito sucesso na investigação de agentes corruptos, só me pergunto como não notam por essa pela macia, que na verdade você é mulher.
- Eu digo que sou metrosexual, além do mais, sabe como são os homens, não notam o óbvio.
- Enfim... Vou te contactar em algum momento, procure ficar mais amiga, aliás, mais amigo dele.
- Vou tentar.
- Você tem um crédito de 3.000 dólares no Cassino Pallas.
- Vou conseguir!
Com um sorriso maroto a linda mulher se levanta da mesa, antes do garçom chegar com um caríssimo vinho que um dos empresários mais ricos da cidade mandara lhe servir, com sua beleza estonteante, ela sai do bar, e entra em seu Jaguar depois de dar uma boa gorjeta para um jovem manobrista de boca aberta e olhos adimirados.
Ela precisa chegar em casa antes do dia raiar, pois seu voluptuoso corpo de vampira viraria cinza sob a luz do sol.
Pouco depois, ao se deitar em seu luxuoso caixão com sua longa camisola cor de vinho, ela tem um último pensamento antes de adormecer.
Como seria o sabor do sangue dele?
CONTINUA...