Calógera e o colágeno perdido

As más-línguas disseram que quando Calógera morreu, outro dia mesmo, estava tão velha e enrugada que sua cara parecia um maracujá de gaveta.

E continuaram dizendo outras maledicências: que com um nome desses ela não podia mesmo ter sido uma pessoa jovem e bem-apessoada.

Que nunca tivera um namorado bonito, que jamais conseguira se casar.

Na verdade, pesava contra sua aparência que durante a juventude, apesar de nunca ter cheirado, havia bebido e fumado muito.

Além de ter consumido muita comida barata, cheia de radicais livres e calorias.

Mas Calógera jamais se preocupara muito com beleza. Beleza para ela (e muita gente) não ia à mesa. Tampouco se preocupara com seus excessos de fumo, bebida e comida, isso nunca.

Também nunca ouvira falar em colágeno, que poderia ter consumido regularmente e assim talvez não tivesse ficado tão enrugada e feia.

Calógera consumira sem saber, como muita gente, algum colágeno através de gelatina, sobremesa barata, que preparava o ano inteiro.

Mas foram porções muito pequenas, quase nada. Nenhum efeito benéfico tiveram em seu organismo.

E hoje, se estivesse viva, tampouco consumiria pés de galinha, que alguns sabichões estavam agora recomendando para reposição do colágeno perdido.

(Sabichões que se alimentavam dos votos dos incautos e mal intencionados e nos supermercados somente iam quando estavam no exterior.)

Por falta de dinheiro, Calógera raramente conseguia comprar carne de boi ou peixe. Daí que, quando podia, levava para casa moela e coração de frango, que até apreciava. Pés de galinha, jamais, nem para fazer caldo.

De pés de galinha bastava sua cara: estava cheia deles quando morreu. Disseram também as más-línguas.