EU CREIO (BVIW)
Conheci Cristina no Réveillon de 2001, na Praia do Rio Vermelho, em Salvador. Fazíamos nossas oferendas à Iemanjá, a Rainha do Mar, e o Ano-Novo já nos encontrou abraçados. Dali não nos separamos mais. Eu era empresário do ramo de joias, no Rio; ela era de Taubaté, filha única de Aristides Castanhede, político importante do lugar, e dono de considerável patrimônio.
Em 2005, Iemanjá me faltou: a má sorte me acompanhou, minha joalheria foi assaltada, contraí dívidas, decretei falência. A ideia de nos mudarmos do Rio foi de Cristina. O pai tinha contatos influentes, que poderiam nos ajudar, ela me convenceu. Em pouco, nos estabelecemos num bairro modesto de Taubaté.
Eu tinha pressa de prosperidade. Comecei a sondar a ideia de dar cabo dos pais dela. Cristina aquiesceu, incumbiu-me de calcular os detalhes: José Acácio, nosso mecânico de confiança, cuidou dos freios da BMW de meu sogro, antes de uma viagem para Ubatuba. O casal foi parar no fundo de um precipício. Assim, nós nos tornamos os únicos herdeiros dos Castanhedes.
Escrevo estas linhas de uma cela no Tremembé, onde cumpro pena máxima. Minha mulher, de conluio com o atual marido, José Acácio, denunciou-me pelo crime. Hoje sei: os dois já tinham em mente aquele plano diabólico, fui apenas uma peça no jogo. A mim, resta “Era uma vez, na cidade de Taubaté”, romance em que pretendo contar toda a minha história. Na saidinha do Réveillon, farei minhas oferendas à Deusa das Águas, e minha guardiã, Dona Janaína. Serei sucesso garantido na Amazon e nas melhores livrarias do país. Eu creio, com as bênçãos de Iemanjá!
Tema da semana: Era uma vez... na cidade (conto)