Sol e Lua

"Sol era um jovem triste. É meio esquisito um homem se chamar Sol, é vibe de pais sem preconceito que querem dar um nome agênero para o filho, mas acontece. Evidentemente que em um mundo como esse, em que as pessoas são miseráveis e brigam até com a sombra, Sol sofria muita muita troça dos amigos de colégio. Colegas, melhor dizendo. Sol não tinha amigos.

Sol sempre foi tratado como um jovem esquisito, desde a primeira infância. Nunca tiveram pena dele, mas de seus pais. Na reuniões escolares, no encontro de pais e me$tres (com cifrão no lugar no "S" mesmo, porque muitos desses profissionais não preconizam o desenvolvimento sadio dos alunos, hegemonizando o sistema escolar como se deles fosse, reclamando da vulnerabilidade e paradoxalmente sendo egoístas em suas próprias demandas), nas festas infantis. Os demais pais tinham pena deles, objetificando e estigmatizando Sol de tamanha forma que nem ao menos dó ele poderia receber. 'Imagine a dor de ter um filho desses'.

Para piorar, além de ser maltratado demasiadamente, Sol amadureceu sexualmente cedo demais. Nascido de 1995, foi audiência do primeiro filme do 'Homem-Aranha' em 2002, o segundo filme que assistiu nos cinemas, o primeiro foi 'Monstros S.A.' A icônica cena do beijo do Homem Aranha pendurado com meia máscara de cabeça para baixo e na chuva, interpretada por Tobey Maguire e Kirsten Dunst foi elemento que acelerou sua puberdade. Desejos afetivos e sexuais, que deveriam ter começo na sua puberdade, começaram a entremear sua vida aos 7 anos, portanto. O que em si nada mudaria para o mundo, afinal ninguém gostava dele, menos teria vontade de se relacionar com ele. Para ele isso foi crucial para o seu entristecimento: pessoas solitárias e desajustadas sofrem por conta dessa condição do dia que se concebem como seres afetivos e sexuais até o momento que isso para de padecer, para muitos a morte. Geralmente isso começa a ocorrer com 12, 13 anos, mas como ele "amadureceu" muito rápido, ele ficou seis anos a mais sofrendo por conta do seu celibatarismo involuntário. Por muito tempo, ele se enganava. Pensava em autoajuda: 'todos têm seu tempo, um dia chegará o meu'. Mas percebeu que era mentira para si mesmo a partir de uma série de gatilhos: o decurso do tempo, a piora no seu tratamento e fatos exógenos. Um deles foi quando com 17 anos, no último ano do Ensino Médio, viu uma colega de classe beijar um garoto do 9º ano. Ele era mais alto que ele, mais inteligente, mais desenvolvido e conseguiu uma coisa que para ele era inconcebível quando ele era um garoto do 9º ano. E para piorar ele se chamava Lua. Nem mesmo o fato de ser chamado com um nome exótico de corpo celeste ele tinha para si mais, e aquilo foi acachapante para ele perceber a bobagem que é vicejar esse pensamento 'Tentar fortificar-se neste pensamento que todos têm seu tempo é mentir para mim mesmo, e mentir para mim mesmo é duvidar do resto da minha inteligência e hombridade'..."

- Sol, você escreve relativamente bem, não precisa ficar se martirizando desse jeito. Eu estou aqui há quatro meses tentando te ajudar nesse tratamento psiquiátrico e parece que você mesmo não quer reagir.

- Eu não tenho mais força, doutor. Estou extenuado disso, toda minha vida foi uma ode à ruindade. Eu não tenho nada nem ninguém. Isso é só um exemplo, mas todo dia são dezenas, centenas de desabonos como esse. Eu estou cansado, nunca nada dá certo.

- Eu vou aumentar a dosagem dos seus medicamentos.

Sol
Enviado por Gabriel Figueiredo em 31/08/2023
Reeditado em 29/12/2023
Código do texto: T7874844
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