Sobre gêmeos e lobos
Outro dia, buscando informações sobre a lenda de Rômulo e Remo e a loba que supostamente os amamentara, sem querer cheguei a uma página na internet que começava assim:
"Acho que não foi por vontade própria que você chegou a esta página.
Nem por indicação de algum amigo.
Nem mesmo por indicação de algum inimigo disfarçado de amigo.
O mais provável é que tenha vindo por obra e engenho do Google.
Estava buscando outra coisa e caiu aqui.
Bem, sinta-se à vontade para partir.
Pois se ficar vai ser apenas o terceiro ou quarto visitante que recebo em meses. O que não é uma honra para ninguém.
Cheguei a pagar algumas pessoas para acessar a página e ter alguma audiência (inflar meu ego, na verdade), mas elas não foram corretas comigo. Deixaram comentários ácidos dizendo preferir as páginas dos outros, que não pagavam nada. Já viu isso?
Será que minha página é tão ruim assim?
Deve ser mesmo, pois nem minha própria família dá as caras por aqui. Isso me deixa bastante chateado. De verdade.
Apenas meu irmão, o Nelson, apareceu uma vez.
Melhor seria se tivesse desaparecido.
(Nelson, sou o Jorge, seu irmão gêmeo, cara. Está lembrado? Sei que parente a gente não escolhe, mas precisava dizer tudo aquilo? Você escreveu coisas que, sinceramente, devia ter guardado somente para si ou então me dizer reservadamente, não? Você disse que as histórias ou anedotas que conto ou invento são todas amalucadas, quando não, idiotas. Que fiz faculdade e não tenho um vintém; que você que só tem o colegial - completo, é verdade – ganha muito dinheiro, tanto que pode até comprar diplomas ou pessoas se quiser... Eu sei que tudo isso é verdade. Sei que você tem muito dinheiro sim, mas precisava ter dito todas aquelas coisas aqui? Mesmo que ninguém fosse lê-las? Onde é que fica minha autoestima, pensou nisso?)
Desde o início deixei claro que este espaço não teria fins comerciais.
Eu estava interessado em cultura com uma pitada de humor; não estava interessado em dinheiro.
Não no dinheiro dos internautas ou de eventuais anunciantes, que jamais seria muito mesmo. Mas no dinheiro do Nelson, que não é pouco, que cresce diariamente (por isso deixei que usasse minha página. Mas, ah, que arrependimento!).
Nelson tem reais, dólares, euros, CDBs, LIGs, LCIs, LCAs, CRIs, CRAs, fundos de investimentos diversificados, dois apartamentos, casa na praia, três carrões... (Amantes ele tem várias, mas elas fazem o dinheiro dele diminuir, não crescer.)
Como meu irmão ficou rico? Eu explico: ele é lobista.
Nelson é fã do Lobão e também era fã do ministro do apagão, lembra dele?
Que ele admirasse o então ministro Lobão (um homem articulado) eu até entendo, por conta das maracutaias em que vivia metido - o Nelson, não o ex-ministro, bem entendido. Mas que aprecie as canções do Lobão, sendo como meu irmão é, sinceramente me parece muito estranho. Não consigo imaginá-lo no chuveiro cantando: ‘Chove lá fora e aqui, tá tanto frio / Me dá vontade de saber / Aonde está você / Me telefona / Me chama, me chama, me chama’...
Bem, chega de falar do Lobão, quero dizer, do Nelson que o Google já deve ter mandando você para outro lugar, não?
Para outra página, outro site ou canal, eu quis dizer."
Não, nada disso ocorreu, fiquei ali pensando um pouco sobre o que havia lido. E porque me pareceu que o rapaz estivesse passando por uma fase meio complicada, tampouco mandei-o para algum lugar ou para aquele lugar. Mas não quis saber com mais detalhes o que o Nelson falou dele, seu próprio irmão. Deixei um like quando saí, não me custou nada mesmo...