A Noite Roubada
Estava de férias, contemplando a doce preguiça de dormir a hora que quiser e acordar o mais tarde possível. Deitou em sua cama com a camisola de seda branca que mais gostava e rapidamente o sono foi chegando. Pensou na felicidade de não precisar pegar o ônibus de seis e vinte da manhã, de não precisar mais estudar para as provas e sentar nas aulas de matemática com mais quinze infelizes a sua companhia. Foi então que o telefone tocou e ela levantou de mau-humor para atender e era um dos infelizes a chamando para ir num barzinho ao lado de sua casa. Ele disse que já estava lá e queria muito que ela fosse. O infeliz que estamos falando não era qualquer um. Era moreno de olhos azuis, tinha a melhor das qualidades que ela apreciava: não tinha medo de mulher. Todas as manhãs antes da aula os dois se encontravam para fumar o matutino cigarro antes de começar a tortura e conversavam dos mais diversos assuntos que pairavam sobre suas vidas. Tinham uma sintonia mágica em que mesmo se sentassem no mesmo banco, um ao lado do outro, e não falassem nada, não se sentiam incomodados. Esse era realmente um amigo, não era aquele que você fala da boca pra fora, mas aquele que você se importa, e ela resolveu reconsiderar o pedido. O menino logo se apressou em dizer que a buscava em casa e ela colocou um vestido e desceu para esperá-lo no portão.
- Por um momento pensei que você fosse preferir dormir a tomar uma cerveja comigo - disse ele com uma felicidade que não queria deixar que transbordasse em seus olhos.
- Por um momento, eu também.
Os dois foram para o bar, encontraram mais uns cinco amigos e ali ficaram até às 4 horas da manhã.
Sentiam um amor um pelo outro, que bastava um minuto de observação e qualquer pessoa viria. Mas era um amor sem intenções, aquele que você sente sem querer beijar, transar ou namorar. Era um amor que se contentava apenas em ficar próximos um do outro, ouvir a voz, e ajudar em qualquer coisa que puder, mas nunca o colocaram em palavras, ficara sempre subentendido. Eram dois jovens felizes, interligados por uma afinidade de outro mundo, que se deixavam levar pelo mais lindo e inocente dos sentimentos, a amizade.
“No fim de semana, a rave em Itaboraí durou 17 horas. Dezoito jovens foram atendidos no hospital e um morreu vítima de parada cardio-respiratória. Lucas Maiorano, de 17 anos, foi enterrado ontem. Segundo a família, ele saiu de casa dizendo que ia para Angra dos Reis e usou um documento com a idade alterada para entrar na festa.”
RJTV 30/10/2007
Lucas Maiorano morreu sem escutar o quanto ela o amava.Sim, Lucas era o menino.A menina? A menina era eu.