A utopia do amor eterno

Ela acordou com vontade de amar alguém. Queria abrir os braços, dar presentes, queria sair à noite e olhar a lua, queria se entregar, fazer amor a noite inteira, contar seus maiores segredos, ser uma companheira valiosa e insubstituível. Levantou-se com um sorriso no rosto: hoje era dia de amor!

A pasta de dentes tinha outro sabor, sentia que se sorrisse o mundo se iluminaria, que os seus cabelos estavam prontos para o afagar de dedos belos, que seu corpo todo estava pronto pra outro corpo. Chegou a estremecer ao pensar em outro corpo, tocando o seu, querendo o seu e tudo o que viria após. Esse após que nos seus 16 anos ainda não fazia idéia de como seria. Não que imaginasse lençóis brancos e café na cama, mas também estava bem distante do rala e rola, carne na carne sem um mínimo de sentimento. A meta não era sexo e sim o amor!

Colocou aquele vestido que gostava tanto, uma olhada no espelho. Sentia-se bonita, coisa que raramente pensava de si mesma. Eu me amo! Gritou alto para o espelho, para a casa, para o mundo.

Saiu de casa admirando o céu, as flores e naquele dia por acaso pegou um caminho diferente, encontrou um rapaz interessante que servia café num restaurante, namorou com ele durante cinco anos, casaram-se, foram pra Europa, tiveram três belos filhos, ele tornou-se um chef famoso e ela escreveu um best-seller sobre o amor que deu esperança a milhões de pessoas.

E então, após ler a descrição do filme ela disse ao namorado:

- Nossa, que sinopse longa! Levamos?

- Não, esse é clichê demais. Que tal aquele da prostituta?

- Ah amor, você só gosta desses filmes assim, nem é romântico.

- Pra que romance, se eu já tenho minha amada aqui comigo?

- Ah é? - sorrindo - Você me ama mesmo?

- Amo sim.

- Pra sempre?

- Pra sempre.

Utopicamente amando.

Utopicamente felizes.

Então deixa estar o mundo de sonhos.

E sorria.