ANGELINA.

No negro da noite nasceu!

Desnudo, como àquela noite sem estrelas.

Desnudo e sem estrelato.

Tal qual naquela noite sem estrelas, morreu!

E desnudado, àquela singular nudez de vida, seguiria!

Não fosse a própria morte, com sua capa rodada, encobrir-lhe as vergonhas.

Porém, após largo caminhar.

Resplandecente estrela em novo palco ressurge, fulgurante!

Nasce com o alvorecer radiando candura, linda criatura!

Alegre e radiante é Angelina nos seus dias de infância.

Brilhante e sonhadora transforma-se em jovem distinta.

Cobiçada pela sua formosura, de súbito, é subtraída dos seus sonhos.

Violando-lhe todos os encantos, o abutre, servil aos baixos instintos, refestela-se, na nudez inerte e sem vida da cheia de graça, Angelina.

Em quanto uma luz se desprende do corpo morto e nu, onde as vergonhas, já não causam, vexame.

Saciado o reles e inescrupuloso vilão, serve-se daí então de sua batina que lhe cobre tão somente a sordidez.

Deixando para trás de si, no jardim da própria casa, um corpo violado!

Angelina era ainda uma menina, porquanto, muito lhe faltava para ser mulher.

Tão maravilhosa, linda, como o alvorecer do dia em que nasceu!

Tal qual um sol reluzente, e de espírito ainda mais depurado, ascendeu.

Anos mais tarde num negrume sem igual abatido foi, por um bando de semelhantes instintos, um pseudo-ancião.

Dissimulado que fora até então, causou a trágica morte do velho pároco alvoroço e grande comoção.

Sem poder valer-se de suas vestes, despido partiu a decrépita criatura.

E nem mesmo a morte com sua capa rodada fora capaz de encobrir-lhe as vergonhas.

Porém, radiosa criatura, com seu brilho afugentou os espectros sarcófagos que se banqueteavam sem pudor daquela vestimenta sem vida, há muito, podrida.

Incredulo, algo insano, meio trôpego e envergonhado, clamou: Angelina,...!