Naquela tarde, resolvi jogar snooker. É um jogo de mesa, taco e bolas, aqui entre nós, brasileiros, há a variante chamada sinuca. O engraçado que esse jogo foi inventado em 1875, na Grã-Bretanha, o objetivo é colocar uma bola em um dos seis buracos da mesa, a sequência é definida pelas regras. Não pode encaçapar a bola branca. Interessante é a ordem das bolas, a primeira é a vermelha, que nos faz recordar o furor da juventude, a segunda, é amarela que já nos faz recordar o outono, com folhas líricas, a terceira é a verde, depois a marrom que nos recorda a terra, o chão... a quinta, nos arremessa ao infinito, pois é azul que nos lembra o céu. A sexta, é como se voltássemos à infância e, experimentássemos o rosa, tão belo e pueril, e a sétima, como é a última, significa a morte é negra... Naquele dia, eu precisava apenas relaxar, não trabalhar e, uma cerveja para alegrar-se com algum álcool. Eu precisava sentir alguma leveza, esquecer dos prazos, da chibata do tempo, a ironia da ampulheta e, olhar o tempo contextual... aquela mesa que convidava aos exercícios de trigonometria...e, tentar a conciliação entre catetos e hipotenusa. Nem tudo se perdeu. Havia me acalmado. E, a tarde no jogo, me fez rir da estratégia, rir das figuras icônicas de masculinidade. Enfim, do lazer tirei forças para compreender a dor e racionalizar o sentido da vida. Será que existe? Insistimos tanto encontrar a razão de tudo. Talvez, o que exista é, realmente, a desrazão, o acaso do inconsciente regido pela genética e pela história. Ficamos a indagar, o que poderia ser diferente? Onde foi que erramos? Foi na tacada, foi no ângulo e, talvez, a falta de alteridade. O outro é nosso desafio. O outro e, a necessidade pungente de ser feliz. Não perdi tempo, ganhei percepção.