O NOME DELA ERA CARMEM

   A minha juventude posso dizer que foi maravilhosa, até me surpreendeu,  quando diversas vezes passo a olhar o céu azul nos momentos de reflexão me vem a imagem de Carmem, uma bela garota que conheci nos anos sessenta, é como se ela estivesse aqui perto de mim, com toda aquela explendorosa beleza e simpatia. Eu me apaixonei por ela perdidamente, eu nem tinha ainda dezoito anos e o amor já aflorava dentro do meu coração. Será que era amor mesmo? Às vezes fico pensando nessa dúvida, como pode um garoto que "nem tirou a catinga do mijo" ainda se apaixonar? Mas foi isso que aconteceu, se era amor ou não isso não me interessa hoje saber, o que importava era a presença constante de Carmem com sua doçura ao falar, com o seu semblante de menina alegre, tudo nela era especial e o seu sorriso me encantava. Lembro da primeira vez que peguei em sua mão, senti algo estranho em meu corpo, algo que me fez sentir uma sensação de bem estar, era como se eu estivesse flutuando. Sonhei inúmeras vezes com ela, já ia dormir pensando nessa figura que povoou minha mente por longos anos, sua imagem ficou gravada no meu cérebro até hoje, quase sessenta anos depois.

   A noite estava linda, eu olhei aquela lua grande e brilhante e comecei a "namorá-la", ela me seduziu de certa forma, me senti nesse momento como se estivesse ao lado de uma linda garota namorando-a. Depois de alguns minutos fui para casa, na manhã seguinte tinha uma prova na escola e precisava revisar o assunto. Dei um tchauzinho para a lua e fui embora. Na manhã seguinte tive uma surpresa quando cheguei ao educandário, uma aluna novata havia acabado de ser transferida para lá e calhou dela ficar na minha sala. Foi a primeira vez que olhei nos olhos de Carmem, esse era o seu nome. Ela tinha um ar de superioridade, mas era tranqüila e sorridente, em pouco tempo já tinha se enturmado, parecia que já era uma velha conhecida na classe. Um simples "oi" foi sua saudação para mim e para a classe também, é claro. Mas esse "oi" marcou a sua característica, pelo menos para mim, passei a tratá-la como uma deusa, não só pela sua beleza, mas pela sua simpatia por ter conquistado todo mundo. Admirei o seu comportamento e comecei a vê-la como uma pessoa especial.

No meio do ano, pouco depois das férias de julho, a escola resolveu fazer um pic-nic para uma granja de propriedade da diretora e dona do colégio, foi uma alegria geral. Foram alugados dois ônibus para o transporte dos alunos que foram divididos em turmas, uma no sábado e outra no domingo, isso me deixou pensando se eu iria no mesmo ônibus que Carmem ia, mas tudo correu como eu queria, fomos no sábado, ela só não foi no mesmo ônibus que eu, mas tudo bem, lá nos encontraríamos. O dia foi maravilhoso e eu praticamente "peguei no pé" da minha deusa, apesar dela se preocupar mais com o divertimento e exploração da área. Até me bateu um ciumezinho quando a vi de papo com um colega nosso de turma, mas tudo era um simples bate papo, coisa que a minha timidez não me deixava me soltar mais, eu sentia uma raiva danada de mim mesmo por não tentar uma "investida" mais... digamos assim, mais "corajosa", porém eu tinha um certo receio, o que me atrapalhava um pouco.

Chegamos ao final do ano e não consegui emplacar um namoro firme com Carmem, mas prometi a mim mesmo que no ano seguinte, com a volta das aulas, eu seria mais audacioso. Novo ano, novas perspetivas de vida, novos alunos, nova classe, recomeço do ano letivo, mas... cadê Carmem? Ela não apareceu! O que houve - fiquei imaginando. E veio depois a triste notícia, ela não freqüentaria mais a escola, assim como surgiu para nos dar o ar da sua graça ela simplesmente "sumiu do mapa", voltou para sua cidade de origem por motivo de ordem particular e lá estudaria. Fiquei desanimado e triste, uma tristeza sem tamanho.

Passaram anos e eu nunca consegui esquecer Carmem, ela mexeu mesmo comigo, um jovem apaixonado que não teve coragem de declarar o seu amor para uma moça que sonhava ser sua namorada. Ao mesmo tempo eu ficava pensando se ela iria mesmo aceitar o meu pedido de namoro, mas enfim nenhum problema iria me afligir se eu realmente tomasse essa decisão, mesmo sendo um fedelho sonhando com o amor.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 15/05/2021
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