Me Deixem Sair (I)

A garota estava presa na cabana.

Na construção pequena e apertada que só possuía um cômodo. Cercada daquelas paredes, chão e teto podres que se desfaziam.

A luz jamais entrava, mas de algum jeito a água da chuva achava seu caminho para o espaço escuro e estreito.

A garota se perguntava se sobreviveria a aquela chuva e se preocupava com o inverno e com os raios e trovões que faziam tudo tremer, a fazendo achar que iria acabar nos escombros da sua própria prisão.

Não tinha nada na cabana. Nada além dela e daquele sentimento de que estava fadada a viver seus dias trancada em um lugar que odiava.

Suas roupas gastas a faziam sentir frio o tempo todo, mesmo nos dias em que o sol era tão forte que deixava a madeira da cabana com um calor reconfortante.

Para a garota nunca fez sol. E o calor ameno era como um pedaço do inferno que a lembrava do inferno que habitava dentro dela.

Ela passava seus dias dando passos hesitantes no pequeno espaço que se recusava a chamar de lar, mesmo que fosse o lugar onde vivia há anos, e a cada passo lento que dava, ela sentia medo do chão pútrido se abrir sob seus pés.

Quando a água da chuva inundava tudo, ela ficava parada com medo de até mesmo respirar. Qualquer movimento poderia transformar aquela cabana inundada em um oceano furioso, com ondas altas e tsunamis que a afogariam em um piscar de olhos. E sempre que possível, a garota sonhava com os pássaros que ouvia soando distantes, desejando ser como eles: livre.

Ela queria voar.

Para longe de tudo que a deixava mal, de tudo que a prendia naquela cabana. De tudo que a puxava para baixo como uma âncora no mar agitado. De tudo que a impedia de respirar tranquilamente.

Então ela esperava por um sinal. Por uma porta. Uma janela. Ou uma maldita fresta aparente naquelas madeiras que a prendiam e desejava ser como a chuva que sempre encontrava um jeito de entrar, mas que, principalmente, sempre achava seu caminho de volta.

Ela queria achar seu caminho.

Queria acordar sem ter que se preocupar com o chão que pisava, com a água que escorria de seus olhos e inundava tudo à sua volta.

Sem se preocupar com os pulmões cansados da respiração irregular e sem fechar os olhos, apavorada, quando o chão sacudia.

A garota tremia pois sabia que o inverno vivia dentro dela.

E que a luz nunca iria entrar, mas a água sim.

E sabia que, eventualmente, ela iria se afogar.

polynny
Enviado por polynny em 04/04/2021
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