Lídia levantou-se para tomar seu café, e ao olhar lá fora o dia escuro, sentiu vontade de voltar para a cama. Escovou seus dentes sorrindo para o espelho, como se isso pudesse magicamente mudar seu dia. Entrou na sala sentindo o cheirinho de café vindo da cozinha. "Bom dia Maria!". "Bom dia patroa! Fiz um pãozinho no forno do jeito que a Sra. gosta!" O carinho de Maria ajudava-a muito a ultrapassar seus problemas, principalmente naquele dia triste e sombrio. "Ah Maria, já vai chover! Detesto chuva!" Que nada patroa, a chuva limpa muito o ar – disse na sua simplicidade". E completou: "Tira a poeira até da gente!". Lídia deu um gole no café, e experimentou o pãozinho. "Hummm que delicia!" A empregada sorriu timidamente, olhando-a com o rabo dos olhos, fingindo tirar uma manchinha em cima do fogão.
Lídia foi para a sala depois do café, andando devagar, agarrando o vidro de seu remédio, uma felicidade meio fabricada, mas pelo menos, tomando-o, conseguia não chorar. Lembrou-se de Otávio e sentiu sua falta naquele momento. Dois longos anos sem ele. Tudo parecia ter parado, no dia em que ele saiu por aquela porta. Maria veio da cozinha e ficou a olhar a chuva e fazer-lhe companhia, intuindo sua solidão. Sentou-se na pontinha do sofá, com um certo recato e respeito, como se não tivesse esse direito, passando seguidamente a mão no avental. “A sra. não gosta de chuva, né d. Lídia?". E em sua simplicidade, com sua voz suave, começou a falar de vida e esperança.
Lídia recostou a cabeça no sofá, entretida pelos personagens fantásticos que Maria bordava de forma tão genuína. E assim a chuva foi passando, e quando ela percebeu havia um lindo arco-íris colorido na janela. Olhou com ternura para Maria, sentindo-se renovada com aquela história de vida, tecida com amor, criada somente para ela. Levantou-se abraçando aquela mulher tão simples, que sempre lhe dava injeções de ânimo na hora certa.
A chuva passou, e com ela, a tristeza de Lídia.
Tema: Acabou depois da chuva