ASINHAS ARTEIRAS (BVIW)
 
 
Hermes era o garoto mais diferente e divertido que já conheci. Vivia com os pés no amanhã, e se pudesse acelerar as horas para chegar logo aos seus desejos do futuro, ele faria. Tinha foguetes na mente que disparavam ideias a cento e vinte por hora, e algumas vezes parecia mesmo que havia asinhas em seus pés. O moleque pegou a mania de rabiscar o último dia de cada mês, isso porque teve a feliz ideia matemática em suprimir um dia para chegar logo as férias! Dona Maria perdeu a vaga do novo emprego por ele ter rabiscado justo o 31 de maio, e ocultado as informações da entrevista. Por ele ter coberto com tinta preta, ela se distraiu, não viu, e esqueceu do lembrete. Nesse dia Hermes dormiu acuado. Além de ouvir muitas e ruins da mãe, o pai desativou a conta do Jogo Astrolábios do coitado!

- Hermes seu infeliz! Esperei três anos por essa oportunidade, e a sua mania de rabiscar as datas me fez perder a vaga! Não sei o que faço com você, menino! – Disse Dona Maria em histeria. E olhando para o marido, na infantilidade, como se quisesse acusá-lo pela atitude do filho, completou: - Orlando, a culpa é sua dele ser assim apressado! Eu queria que se chamasse Cândido, mas você escolheu logo o deus da Velocidade... Agora aguenta!

Tive dó dele. Acho que só eu, e mais ninguém, o entendia. Éramos os melhores amigos do Universo! De fato, eu vivia imaginando que Hermes inventaria qualquer coisa além do nosso tempo: Teletransporte, veículo na velocidade da luz, um portal para outra dimensão e, ainda,  imaginei ter sido ele que mexeu no eixo da Terra para ela estar acelerada assim com os dias passando tão ligeiros. Com o correr dos anos, Hermes foi tendo entendimento e paciência, e nunca me esqueci do que me disse:

- É a ação do tempo que faz o fruto crescer. Não se deve apressar nada. Tudo tem a hora certa de acontecer, amigo Zeca! Mas a verdade é que, no fundo, Hermes nunca mudou. Ainda bem!