VALDEMAR PÉS DE BICHO - Final

Um a um, teve início aquele movimento que poderia sepultá-los naquela densa floresta. Agarrando-se aos arbustos com o corpo rente à parede, procurando apoio para os pés, seguiram. Poucos metros de evolução, o último, o que estava mais acima, perdeu o apoio dos pés e o arbusto ao qual segurava não suportou o peso e se soltou, ele caiu levando para o fundo do abismo os outros dois que estavam logo abaixo. O primeiro, como estava um pouco para um dos lados, só ouviu os gritos e o som causado pelos corpos batendo nos arbustos e nos ressaltos das rochas.

Agora solitário, sem condição de um raciocínio mais lógico e muito debilitado fisicamente, o último deles continuou sua descida. Perdeu qualquer noção, parecia que o instinto de sobrevivência se impunha. Quando deu conta de si, estava em uma gruta, deitado sobre uma padiola rústica de taquara trançada e coberto por um trançado de cipós e capins macios. Não havia ninguém além dele ali. Sentindo se com o corpo todo dolorido, levantou-se e se alimentou com bananas e gravatás, que estavam sobre uma taipa de pedra onde também estava uma cabaça com água. Aí então se deu conta do que tinha acontecido com seus companheiros e de como é que ele teria chegado até aquela gruta.

A equipe de resgate, seguindo os cães farejadores, chegou até a cachoeira do despenhadeiro. Os cães indicaram o caminho que os jovens haviam seguido a partir dali, mas os caçadores, mais acostumados que os afoitos jovens, ponderaram que seguir aquele caminho farejado pelos cães, seria de alto risco, que havia então a possibilidade de não encontrarem aqueles jovens ainda vivos.

Os cães mesmo resistiam em seguir por ali, iam até um certo ponto e voltavam. Os homens gritavam alto e depois silenciavam na espera em vão por respostas.

Decidiram que iriam fazer o grande contorno, se afastariam um tanto da encosta da cachoeira e então começariam a descer. Não poderiam contar com os cães para guiá-los, já que por onde iam, certamente os jovens não teriam passado e deixado os seus sinais, seus cheiros. Calcularam que teriam que acampar, pois não chegariam ao destino antes do anoitecer que já estava muito próximo.

Caminharam por um certo tempo e começaram a descer em ângulo leve.

Não demorou muito e os cães alardearam ter encontrado algum sinal. Farejaram uma pista. Acostumados, os caçadores logo identificaram que por ali havia uma trilha cujo um dos lados seguia em direção da cachoeira, seguiram e chegaram até a gruta onde encontraram o rapaz ainda um tanto confuso.

O jovem contou sobre o ocorrido com seus companheiros mas não soube dizer como foi parar naquela gruta.

Narrou como estava quando acordou e afirmou acreditar que alguém o levou até lá.

Alguém do grupo, quase em grito disse que só poderia ser o maldito Valdemar Pés de Bicho e jurou vingar na imaginada criatura, a ainda não confirmada morte dos três rapazes.

Aproveitaram que o dia já findava e ficaram na gruta para passar a noite e também esperar o retorno da criatura que imaginavam se esconder ali. Esperaram em vão.

Depois já da metade do dia, chegaram na parte baixa nas proximidades da cachoeira. Os cães logo encontraram os corpos dos jovens.

Na cidade houve uma comoção generalizada em virtude das mortes.

Capturar o Valdemar Pés de Bicho e vingar a morte dos rapazes virou a obsessão daquela gente.

JV do Lago
Enviado por JV do Lago em 27/10/2020
Reeditado em 27/10/2020
Código do texto: T7097695
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