Era uma vez...
O homem pássaro de braços abertos pra vida
Sempre com um brilho no rosto enrugado
Colecionador de coisas velhas, bolso rasgado
Entregue à sua sorte como uma ilha perdida
Uma gota de mãos cheias no meio do oceano
Ao longe podia sentir-se o seu cheiro à humano
Não era superior à ninguém, tão pouco anão
Caberia o mundo inteiro em seu coração
Tinha conhecidos, mas ninguém ao seu redor
Sempre com um copo ao lado do cinzeiro
Uns diziam que era louco, outros que era feiticeiro
Mas no fundo era apenas um sonhador
O que de mais valioso tinha eram as suas palavras
Até o silêncio chorava quando lamentasse
Tantas vezes fora crucificado por ser tão bom
Pobre homem que a vida deu o sofrimento como dom
Não lhe restava um amanhã, nem fotos do passado
Tudo que tinha era o mar onde esperava ser enterrado
De cima o mar parecia um buraco pequeno
Por dentro o buraco era um vazio eterno
Seu sonho era ver mais um pôr do sol antes da morte
Dar um gole de despedida naquele líquido forte
Poderia reescrever a sua história sem dor
Mas hoje esse homem descansa em um lugar melhor.