Era uma vez...

O homem pássaro de braços abertos pra vida

Sempre com um brilho no rosto enrugado

Colecionador de coisas velhas, bolso rasgado

Entregue à sua sorte como uma ilha perdida

Uma gota de mãos cheias no meio do oceano

Ao longe podia sentir-se o seu cheiro à humano

Não era superior à ninguém, tão pouco anão

Caberia o mundo inteiro em seu coração

Tinha conhecidos, mas ninguém ao seu redor

Sempre com um copo ao lado do cinzeiro

Uns diziam que era louco, outros que era feiticeiro

Mas no fundo era apenas um sonhador

O que de mais valioso tinha eram as suas palavras

Até o silêncio chorava quando lamentasse

Tantas vezes fora crucificado por ser tão bom

Pobre homem que a vida deu o sofrimento como dom

Não lhe restava um amanhã, nem fotos do passado

Tudo que tinha era o mar onde esperava ser enterrado

De cima o mar parecia um buraco pequeno

Por dentro o buraco era um vazio eterno

Seu sonho era ver mais um pôr do sol antes da morte

Dar um gole de despedida naquele líquido forte

Poderia reescrever a sua história sem dor

Mas hoje esse homem descansa em um lugar melhor.

Kamba Kabeto
Enviado por Kamba Kabeto em 15/10/2020
Reeditado em 15/10/2020
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