A cidade de Divinéia sempre foi famosa por seu jeito pacato. Com seu ar introspectivo, típico do interior brasileiro. Sua população é composta por gente simples e acolhedora. Lá, é a morada "dos Alencar", tradicional família local destacada principalmente na política, dominando-a desde os tempos do coronelismo. Faustino Alencar é o braço forte da vez. Depois de ver seu pai, Fausto, ser prefeito em seis oportunidades, chegou a vez do filho reinar. Faustino, assim como o pai, enxerga a política como instrumento de poder e validação da sua força. Cedo quando pôde, formou-se na capital. Virou “dotor”, como dizem seus singelos apoiadores. As leis aprendidas no banco da universidade parecem ser menos importantes quando o assunto é governar Divinéia.
 
Contudo, para tristeza do velho Fausto, os Alencar se dividiram. Tudo isso ocorreu quando Flávio, neto de Fausto e sobrinho de Faustino, resolveu lançar-se candidato. De lá para cá nada foi como era antes. Com a divisão, Fasutino sentiu-se traído, enxergando Flávio como perigo iminente frente aos seus objetivos. Flávio, sujeito discreto e observador, é engenheiro de formação. Decidiu frustrar os planos do tio ao constatar que seus conterrâneos viviam presos, sob o julgo do avô e de suas decisões autoritárias. Por romper com parte da família, ele espera angariar apoio popular, principalmente dos opositores de Faustino. No entanto, Flávio tem outras preocupações além daquelas advindas de sua família: o comerciante Álvaro Lima.
 
Álvaro prosperou no mundo dos negócios. Começou com uma loja de variedades na praça da feira. As coisas foram melhorando e ele partiu para o ramo imobiliário. Os anos passaram e hoje ele é um dos homens mais abastados da região. Mas para um homem não basta de ter dinheiro, é preciso ter influência. Assim, Álvaro também se dispôs a concorrer nas eleições. Seu desejo oculto é desbancar “os Alencar”, tirando deles seu maior tesouro: o controle da cidade. Com um temperamento pacífico, ele anseia modernizar sua terra natal assim como fez com seus interesses. Sabe, entretanto, para ganhar, sua atuação deverá passar por uma estratégia bem articulada, inclusive investindo seu próprio patrimônio.
 
Na visão de Carlos Reis, não dá mais para esperar. Funcionário público de longa carreira, sempre desejou concorrer, mas optou por esperar sua vez. Acredita ter o apoio dos divinenses mais humildes, os quais lhe dão atenção quando este sai pelas ruas. É um homem bem quisto, sem dúvida. Em sua mente, todo o santo dia vem a pergunta: como farei para ganhar uma eleição sem recursos? Para seus adversários, bem verdade, esse problema inexiste. — Talvez fosse melhor desistir ou juntar-me a um dos três, pondera Carlos.  —Bobagem!  Eu posso ganhar. Em seguida os pensamentos voltam. E assim, em tempo em tempo, segue refletindo qual caminho seguir.
 
Na internet e nas conversas informais nas praças da cidade o assunto é um só: quem vai ganhar a eleição. Alguns se animam pela possibilidade de novos candidatos em escolha, outros preferem seguir com o roteiro já conhecido, e tem aqueles alheios, preferindo debochar dos que acreditam em políticos. O espaço é democrático. Inegável é a mudança do panorama. Divinéia jamais teve tantas opções ao voto. Os ânimos se acirrarão ainda mais, a medida da aproximação da data das convenções partidárias. O divinense logo conhecerá todos os candidatos a prefeito e a vereador, daí terá uma noção mais concreta do cenário. Isso vai dar o que falar...