UM SER SOLITÁRIO

   Seu nome ninguém nunca procurou saber, chegou discretamente e se instalou em uma pensão da cidade, um lugar pacato e sem violência. De onde veio também impossível saber, pois nunca conversou com uma pessoa sequer durante o tempo em que nesse lugar permaneceu. Pagou os aluguéis sempre em dia, o máximo que se sabe é que sempre cumprimentava quando por alguém passava, apenas um "bom dia" e nada mais. Também ninguém se preocupou muito com um estranho que, mesmo esquisito, nunca fez mal a ninguém.

   Já era tarde da manhã quando a dona da pensão estranhou pelo fato do estranho senhor, de seus mais ou menos sessenta anos, não ter descido para o café da manhã, coisa que sempre fazia antes de pegar a estrada e só voltar no final da tarde dispensando até a janta, possivelmente já chegava de barriga cheia e se enfurnava no quarto só saindo no dia seguinte. Era final de mês, terceiro mês de sua estada ali, aluguel, porém, em dia. Resolveu a proprietária subir e verificar o que ocorrera, se tinha saído bem cedo ou se resolvera dormir até mais tarde. Bateu na porta bem devagar uma vez, depois mais outra e como não obteve resposta chamou um funcionário para, junto com ela, abrir a porta com a chave reserva. Feito isso, a surpresa, lá estava o homem deitado e ainda coberto. Estava morto.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 05/08/2020
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