AO RELENTO

  03:07 h., madrugada congelante, o homem acorda subitamente com latidos de cachorros, a chuva fina lhe batia no rosto mal barbeado enquanto alguns outros moradores de rua também despertavam assustados. O antigo relógio digital no pulso do homem que acabara de acordar estava embaçado pelos pingos de chuva que começavam a engrossar molhando os papelões que serviam de colchão, seus companheiros de noitada estavam mais protegidos embaixo do viaduto. Os cães pararam de latir e se afastaram em busca de abrigo contra a chuva.

   Já em outro local o homem se aquietou em sua cama improvisada, passou a mão na barba suja e tentou dormir, o vento frio incomodava, mas o grosso lençol surrado e sujo aliviava um pouco o frio e o sono não tardou. Os demais também iniciaram um silêncio sepulcral quebrado somente quando algum veículo por ali transitava ou com uivo do vento, ou ainda com o barulho esporádico da chuva. A luz fraca de um poste ali próximo ilumunava precariamente o local.

Amanheceu, a chuva havia cessado, um feixe tímido da luz solar atravessou as nuvens e acariciou aqueles rostos de pessoas que não se importavam muito com a vida. Mais um dia para sair em busca de algum alimento para saciar a fome que já incomodava o estômago.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 03/12/2019
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