Archon Basileus

Há algo estranho em Archon Basileus.

Archon Basileus é um individuo que, desde pequeno, sempre se destacou entre os que pertenciam ao seu grupo e à sua mesma classe. Hoje é detentor de um poder quase absoluto, figurativamente falando, mas como desejado de ser visto pela população. Tornou-se uma figura venerada, com os perigos que isto pode trazer acoplados.

Aluno aplicado, daqueles que sabem bastante do que está nos livros, sempre esteve apto a passar em qualquer concurso. E, com efeito, por merecimento, os exames de conhecimento teórico lhe abriram as portas para o mundo da magistratura. Isto antes de completar um quarto do século de vida. Prodígio. Mesmo que não tivesse ainda tido a oportunidade de receber os ensinamentos da vida, tão importantes para a dosagem de tudo o que se faz.

Archon Brasileus, ainda nos bancos do ensino superior, acreditava que a virtude e conhecimento identificavam-se. Pelo seu interesse por filosofia, seus colegas achavam que ele bebera dos diálogos atenienses da época socrática, discussões em que se investigava se virtude era conhecimento e, sendo assim, poderia ser ensinada. Ou, pelo raciocínio contraditório, se a virtude era dádiva divina, sem compreensão da parte daqueles que a recebem. Pois não poderia arrogar-se conhecimento. E só o homem que sabe tem a prorrogativa de conduzir, liderar, governar altas e nobres tarefas.

Ele sabia, e praticamente todos atestavam, que tinha um conhecimento muito bom de tudo o que ele se propôs aprender. Mas só alguns perceberam que Archon Basileus já se considerava um virtuoso. E aquela era uma bela discussão teórico-filosófica. Havia algo estranho no interesse por aquele binômio que tanto lhe atraía. Só mais tarde seriam percebidos os traços em sua personalidade que derivaram desta fase, convencido que já estava do seu amplo conhecimento, da sua virtude e, principalmente, da virtude da sua causa, a sua razão neste mundo. A missão.

Já no inicio da carreira Archon Basileus destacava-se. Especializou-se na área financeira do mundo criminal. Teve oportunidade de participar de importantes trabalhos e mostrou toda a sua competência teórica, mas manteve-se o quanto pode fora da evidência. Havia algo estranho naquela dissimulação em não mostrar o quão brilhante era a demonstração do seu conhecimento. Esse disfarce manteve-se ao longo do tempo e foi útil quando, no seu principal trabalho, teve que se mostrar tão imparcial em assuntos sobre quais já tinha seu julgamento prévio, tomado por subjetividades suficientemente enraizadas em seu interior. Já era especialista.

Seu narcisismo já havia aflorado, sem se separar da sua marca registrada da dissimulação. Mesmo em matéria de gosto duvidoso como, por exemplo, seu modo de vestir. Achava lindo e passou a adotar um constante estilo soturno, com tons mais escuros de peças de roupa, umas sobre as outras na indumentária formal. Achava bela aquela combinação para o dia-a-dia. Realmente havia algo de estranho naquele narcisismo tom-sobre-tom descolorido. Chegou a ser comparado a membro de uma atemporal facção estrangeira – Camisa Nera. Havia uma malícia neste cotejo, aludindo também a métodos de trabalho. Mas a comparação, no fundo, não incomodava, gostava até. Achava chique. Ademais, a nação a que referia lhe inspirava.

Já com duas décadas de experiência teria à sua frente o comando de uma grande operação, de forte repercussão jornalística e social, que lhe daria enorme projeção. Foi aí que mostrou uma outra competência que ainda não havia exposto. O perfeito uso dos meios de divulgação como instrumento para assistir na condução do complexo conjunto de meios, ações e medidas que validavam o processo. Mais uma vez demonstrando o conhecimento adquirido num minucioso estudo de caso em que se tornou autoridade e especialista. Neste turno, a hora prática.

Vendeu a imagem de uma investigação até certo ponto banal, estopim que veio provocar uma reação em cadeia figurativamente comparável à fissão nuclear. Havia algo estranho nessa abordagem de marketing. Vários elementos presentes neste inicio de pavio vinham de casos passados e encerrados, em que Archon Basileus havia fracassado. Não havia se perdoado, a sede de vingança o movia. E somado a componentes que vinham de um importante processo concluído na corte mais alta, em que tinha atuado como assistente, um trabalho importante. Por que a dissimulação, apresentando como um caso completamente novo?

Sua equipe de apoio era notável e exclusiva. Archon Basileus compôs um Grupo de Trabalho Especial Dedicado. Integrantes desta equipe vinham das mesmas atividades da experiência fracassada. Archon Basileus, na condição de julgador, deveria ter suas atribuições estanques da atuação da equipe de agentes investigadores. Mas mesmo com todo o esforço para transparecer uma correta configuração, a percepção de toda a população era que o Grupo de Trabalho Especial Dedicado era um só corpo, com Archon Basileus no comando de tudo. Havia algo de estranho nos bastidores.

A estrondosa repercussão da operação trouxe junto uma visibilidade a Archon Basileus como poucas vezes se viu numa figura da sua classe. De certa forma, apenas a evolução natural do destaque que sempre teve. A imagem do impoluto personagem que veio resgatar a estima dos homens de bem muito bem vendida para a sociedade. A missão divina nas mãos certas, a virtude da sua causa perseguida desde a educação superior finalmente era realidade.

O mérito da causa era intocável. Absolutamente ninguém poderia ser contra o bom combate que Archon Basileus comandava. Mas junto com a visibilidade e com as estranhezas que já haviam aparecido repentinamente aqui e ali, aumentou o número de pessoas próximas às suas ações e aumentou a percepção de características de personalidade, das particularidades dos atos, aumento das apreensões. Era menos o conteúdo da causa que mais chamava a atenção de quem conseguia enxergar um pouco além da imagem e da roupa do super-herói: mas a forma, os métodos.

Rapidamente, pois, Archon Basileus tornou-se figura popular, celebridade. O efeito manada foi imediato e em qualquer sitio milhares de entes binários seguiam o salvador. Ocupava quase que diariamente o noticiário. Mostrou-se exímio na utilização deste canal como instrumento para manter a chama do interesse acesa. Mais do que isto, o auxílio às suas batalhas investigativas, sabendo vazar informações importantes que atrairiam elementos novos à operação. De modo secreto, com divulgações não autorizadas: ele não poderia mostrar-se como condutor das sindicâncias. Era perceptível o papel desempenhado por alguns poucos jornalistas nesta tarefa. Havia algo de estranho nesta relação, mas o grande holofote dos fins ofuscavam os meios, já mais que justificados.

Archon Basileus teve o cuidado de manter abertas e excelentes as relações com seus superiores, suportado pelo apoio popular de ídolo de seleção nacional. Suas decisões ficaram anormalmente sem questionamentos. E a intolerância a críticas cristalizou-se. Como Agamênon, ele devia ser protegido de qualquer forma de censura. À mínima crítica logo um membro do Grupo de Trabalho Especial Dedicado é escalado para bancar o choramingas de plantão. E lá vem o designado com os pulmões cheios a contar lamentos. Sobrevém o espirito de corpo e todos se fecham em copas para a devida proteção. Tudo conspira para atrapalhar sua operação. O mundo é o mal. Eles são o bem.

Por vezes passou a ser confrontado. Quando feito com inteligência e firmeza, a sua expressão pseudo-impassível se transtorna em sutis, mas perceptíveis, movimentos de traços faciais. Isto o incomoda muitíssimo pois quer se manter imune, mas sabe que alguns percebem sua reações, sabe que não consegue de todo esconder. Aquele interlocutor causador de tamanha ofensa restará para sempre na sua lupa. Há algo estranho nesse sentimento tão forte voltado para a vindita. Cai por momentos a máscara da falsa modéstia do herói por trás do muro de magnanimidade, imparcialidade e justiça, muro esse que acabou de ser rachado. É a vaidade ferida.

Quem não quer limitar-se a responder perguntas tendenciosas, ou fora de contexto, formuladas por Archon Basileus ou pelo Grupo de Trabalho Especial Dedicado, é repreendido por ele. Clama por objetividade, no entanto não se interessa por nenhum esclarecimento mais técnico. Isso não importa, não é tema para sua audiência, não faz parte do seu show. E se os oradores tentam defender o direito à expressão, são acusados de tumultuar sua reunião. Há algo estranho na motivação de não se poder ter a liberdade de se dizer o que se quiser.

As reproduções da sua figura nos periódicos são normalmente de uma vista ligeiramente de baixo pra cima. Ele mesmo buscava e quando possível pedia mesmo essa pose, a postura afetada e pretensiosa. Achava o seu melhor ângulo. Os retratistas atendiam pois conferia aquela aura de personagem real. E afinal, todos gostavam disso: Archon Basileus, os editores e o público consumidor. Poucas pessoas se incomodavam. Achavam horrível morar onde mora o mito. O super-herói fabrica vilões, é necessário. E havia algo estranho naquele olhar fixo no infinito da paisagem. Também ao vivo. Nas conferências não fitava a plateia. Parecia falar para aquela teia de aranha imaginária, no canto direito da parede ao fundo com o teto. E no canto esquerdo também havia outra teia de aranha. Ou então intercalava os movimentos da cabeça em 180 graus, 90 à direita e 90 à esquerda. Como se nessas duas posições estivessem os assistentes mais importantes da audiência. Ninguém jamais fora fitado por ele, devia fazer parte dos seus superpoderes.

A fama de Archon Basileus e a notoriedade que seu trabalho atingiu venceram as fronteiras da nação. Passou a receber comendas e convites para conferências no exterior. Diga-se que basicamente na grande nação mundial, a potência em termos econômicos e militares. Reconhecimento internacional, o orgulho de brilhante conhecedor da matéria. Comentava-se o tão importante apoio e cooperação. Mas havia algo estranho neste apoio e cooperação da grande nação mundial.

Em que nível isto se dava nunca estava claro. Uma década antes a grande nação havia intentado ser nossa parceira exclusiva na exploração de nosso novo campo energético. Benevolente dispormos da sua tecnologia. Obviamente tentava interferir nas nossas relações diplomáticas e comerciais. Na época essa pretensão fora rechaçada pelos governantes e autoridades, muitos ora alvos dos esforços de labor do Grupo de Trabalho Especial Dedicado. A custo se descobre o preço que se tem opor-se a grandes interesses.

Dentre as frequentes viagens de Archon Basileus, havia também de cunho pessoal, sem agenda, como de férias porém sozinho, sem familiares. Não configurava normalidade. Quem percebeu que havia algo mais entre o céu e a terra estava sem voz. Todo o raciocínio dedutivo apontava que Archon Basileus estava investido de alguma função estranha, relacionada à politica expansionista da grande nação, especializada em desestabilizações mundo afora. Isto não estava certo. E mais, era muito sério. Sério demais, no contexto de algo que deveria ser iniludível mas não era percebido. De fato existia um tom mais leve na palidez do tema. A mácula que ficou, pelo menos, além de presente era indelével, como a ser descortinada no futuro. Já disse o dramaturgo que não há segredo que o tempo não revele.

Sua estratégia de manter uma falsa distância oficial dos meios de divulgação ficou mais difícil. Inesperadamente acabou por conceder uma entrevista de alcance nacional. Não as dava devido à sua posição e a seu recato, dizia, desta vez concordou. Alegou a identificada carência de alguns esclarecimentos. Havia algo de estranho naquela entrevista, concedida ao mesmo gazeteiro que, desde o início da sua faina persecutória, publicava as novas em primeira mão, os furos noticiosos. O seu utensílio para obter os seus fins.

Não havia esclarecimento algum. Nem a interlocução entre duas pessoas. Era o seu lado manipulador que Archon Basileus agora duplicava. Um monólogo disfarçado a dissertar sobre seu assunto. Sem explicitar evoca Sócrates, que rejeita a participação política em nome da perfeição da alma, idem a dele. Apresentado como a personificação da operação, a matéria expõe o paradoxo com as atribuições do seu papel funcional. Quer parecer objetivo, que há fundamentos, quando toda a operação tem mais base nas suas interpretações. Não consegue disfarçar o desejo de blindar a subjetividade de julgamentos no futuro. Sabe que ai pode residir alguma fragilidade para todo o trabalho.

Menciona especificamente que criminosos admitiram seus delitos, como a classe dos construtores, por exemplo. O que ele não esclarece é como as cooperações foram forçadas pelo seu Grupo de Trabalho Especial Dedicado, com encarceramentos a granel. O construtor foi instado a negociar, o que ele sabe fazer muito bem por qualidade profissional. Entendeu a saída da negociação e aceitou admitir os crimes para minimizar seus danos. O caminho pavimentado foi um contrato com o Grupo de Trabalho Especial Dedicado, com a aprovação formal de Archon Basileus, não o exercício de justiça, já desde o inicio restringindo o pleno desempenho das defesas. E assim, por extensão, todas as outras classes incorporaram o desespero a buscar seus contratos também. Sucesso total.

A esta altura já é bem perceptível que Archon Basileus também sabe ser mau. Archon Basileus é mau. Sua maldade permanece bem dissimulada na sua caixa de ferramentas, de onde tira seus variados instrumentos para realizá-la. Esta parte lhe era fácil. Propagava sempre que tinha os fundamentos legais e as provas para suas decisões. Sabia construí-las. Quase ninguém possuía o conhecimento que ele tinha para interpretar as leis. Não havia melhor hermeneuta, julgava-se. E quem tivesse não iria contradizê-lo, estava do mesmo lado, talvez menos por convicção e mais por corporativismo ou medo da opinião pública.

Mas bem que havia algo estranho naquela maldade maquiada de severidade imparcial, porque ele não sentia absolutamente nenhuma culpa. E ele tinha consciência disto. As metas de Archon Basileus sempre fulgaram bem acima.

Concomitantemente outro processo comportamental se desenvolvia. Archon Basileus era admirado por sua tenacidade na condução do seu trabalho, mas não houve quem se desse conta que ele se rebelava contra uma sociedade que, claro, conhece bem por pertencer ao lugar. Desde os pequenos atores e suas pequenas vantagens do cafezinho aos governantes e o uso que fazem dos seus cargos públicos. Não! Se o inconsciente coletivo representava essa sociedade ele nascera para ser o guerreiro que cumpriria a missão de buscar o que ele chamava de democracia de melhor qualidade. Ele era o escolhido da alegoria, o que lhe foi dado sair da caverna, subir a ladeira e olhar para as coisas até vencer o deslumbramento. Precisava fazer algo material, não poderia se arriscar a ser considerado um visionário. A realidade que se quer delinear é utópica e, por isso, o move com obstinação.

A sua inteligência lhe dava o exato entendimento que – e aí residia seu maior incômodo de não experimentar o menor distúrbio emocional – essa aversão à sociedade combinada com seus métodos e a total ausência de culpa traduziam à perfeição a definição de uma patologia. Não contava para ninguém, mas sabia. E tentava se convencer que não era intrínseco, era por opção. Pela missão. Profissional. Psicopata profissional.

E por que não? É como quando a justiça se encontra com a vingança. O vingador não tem culpa tampouco. Justiceiro. A purificação pelas penas impostas pelo tribunal. Há algo estranho quando o risco é a aproximação da justiça com a divindade. O nome de Archon Basileus foi associado a um novo mito que visa realizar, no campo da ideologia, o que os homens não conseguiram realizar na prática política. Como se consegue a reconciliação cívica e a solidifica? É preciso uma borracha sobre o passado. Há coisas que não tem solução à luz das regras como foram aplicadas até agora. É preciso a nova interpretação, e assim tudo se justifica.

O ideal que Archon Basileus representa não é um mero devaneio. Considerando a justiça a maior e mais necessária de todas as coisas, assumiu a tarefa de reorganizar seu quintal. Sua misantropia permitiu-lhe a execução. Chegou a imaginar que tinha um oráculo só seu, seu demônio familiar que, como Delfos, declara não haver ninguém mais sábio do que ele. Ninguém mais justo, mais livre, mais sensato. Basta existir para ser perfeito. Ficou tão senhor de si que a jactância lhe foi companheira permanente seja no tribunal ou com o jornalista, seja no parlamento ou na conferência.

De volta ao realismo do mundo material, em pouco tempo estaria a chegar a hora em que sua candidatura a uma promoção seria colocada. E seria agraciado, o sabia. Ninguém tinha dúvidas. Mas qual posição? Examinou o plano da sua carreira e não se viu ali. Estava fazendo algo especial demais para ter sido previsto por algum mortal. Repassou mentalmente sua missão. Sonhava que esta era uma empresa tão grandiosa que ao fim se confundia com o cosmo e com a soma dos dias. Nisso se resumia a imensidão de sua obra. Era infinita. Não pertencia ao aqui e agora; não mais. Se o espaço é infinito poderia estar em qualquer ponto do espaço. Se o tempo é infinito poderia estar em qualquer ponto do tempo. O renomado escritor nunca foi tão preciso quanto seu livro sem princípio nem fim. E a sua missão, por fim, era a materialização de toda essa transcendência.

Permitiu-se brincar, no pensamento viajante, que a noção ideal de justiça é como o conceito de limite inatingível do cálculo diferencial, e criou seu cargo futuro perfeito. Sorriu silencioso, mas de um modo que nenhuma pessoa jamais testemunhou, e saiu a cuidar de providenciar o seu folguedo.

Seu filho entrou no escritório para avisar que o jantar estava a ser servido. As coisas em geral no recinto achavam-se mais bem arrumadas que de costume, mas todo o ambiente encontrava-se ainda mais sombrio e soturno. Um aroma de mogno forçado e acentuado, desconhecia aquela essência. Imaginou que deveria ser assim a sede do Conselho Noturno, aquele órgão público que seu pai contou numa história e que, num estado ideal platônico, austero e com rígido controle ao pensamento, era investido do poder de mandar os membros da dissidência para um centro de reabilitação ideológica. Achou estranho, e melhor não comentar, quando viu a plaqueta metálica colocada no triedro de cerejeira, por sobre a escrivaninha: MAGISTRADO-REI.

Há algo estranho em Archon Basileus.

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“Este conto é de ficção e qualquer coincidência é só isso: coincidência. É tão somente inspirado em eventos, personagens e suas características de personalidade, e em argumentos que culminaram com o julgamento de Sócrates, fato ocorrido no ano de 399 a.C, hoje diríamos considerar-se um risco à ordem pública”

(Escrito que foi em Nov/2016)

Graco Jakal
Enviado por Graco Jakal em 11/09/2019
Código do texto: T6743011
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