Saudade dos cinemas de antigamente

Sempre fora arriado os quatro pneus pela sétima arte, o cinema, que para ele era a primeira. Apesar de avesso à tecnologia assimilava que ela de certa forma melhora a vida das pessoas e não adiantava contestar o que era irreversível. Mas lamentava que a tenologia tivesse retirado do cinema suas peculiaridades, costumes e magia. Não gostava do cinema digital, a fita não quebrava, o som agora era tão perfeito e tão alto que ensurdecia, fazia mal aos tímpanos. Não, não gostava dos cinemas de shoppings. Eles não tinam a magia dos antigos Cinemas Paradiso que ela chamava cines pipocas. Sim, acabara para ele aquela trdição de antigamente de toda semana ir duas vezes ao cinema.

Lembrava que ir ao cinema no assado incorporava todo um ritual: o passeio na praça, a espera da projeção ouvindo música orquestrada, o papo, a sirene apitando avisando que o filme começaria daqui a pouco, o badalo quando as cortinas se abriam, o frisson do escurinho, as namoradas guardando as cadeiras para os namorados, o lanterninha, os que chegavam atrasado e atrapalhavam a visão dos que estavam sentados e estes gritavam: senta espelho sem luz", os chatos que já tinham assistindo ao filme contando o que sucederia na cena seguinte, a fita quando quebrava e resultava nos flagros dos amassos... Que saudade do cinema antigamente, suspirou, mas foi interrompido na sua divagação pelo chamado da mulher: - Vem logo, sujeito, a novela vai começar. Doía saber que fora obrigado a trocar o cinema de antigamente pelas novelas. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 14/08/2019
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