As Flores e as Estrelas de João

Nunca conheci tamanha dor que era João. Chorava todas as noites de chuva, quando não podia abrir a janela do quarto e olhar para as flores e estrelas. Eram muitas em seu jardim: camélias, rosas, margaridas. Tão quantas eram as constelações *Cepheus, Orion, Hércules*.... João queria as flores e queria as estrelas. Ah! João, se eu pudesse, o colocaria em um jardim de estrelas. Mas para ter a mais bela flor para si, teria que arranca - lá de suas raízes como todos os outros rapazes que não aprenderam a amar. E as estrelas? Estavam longe e presas na escuridão. “Um ou outro, não se pode ter tudo que quer” dizia o pai dele na infância, e João se acostumou a ter que fazer uma escolha. Na sua inocência, certa vez chegou a comentar “e se eu gostar dos dois?” O "se" é uma partícula muito oculta para as pessoas, João. Foi o que pensei quando o conheci, quando percebi que não preciso gostar de flor ou estrela. São tantas possibilidades, e João conhecia tão bem todas elas. É triste olhar as pessoas que não compreendem dizer para que ele arranque uma flor, mesmo que sangre na terra, e esqueça a estrela que só serve para as forças da noite. “As flores reproduzem, João”, “as estrelas nem estão na terra”. João chorava em meio a toda essa gritaria que vinham de fora dele. As estrelas brilhavam, flores enfeitavam e a recíproca é verdadeira, pensava João. Como eu queria que não fosse preciso fazer o que ele fez para ter ambas as coisas, o mundo ainda demora de enxergar as estrelas que nascem. Em suas ideias, João só poderia querer as flores. Naquele dia, levei flores para João, e ele as levou para as estrelas.

Lucas Yagami
Enviado por Lucas Yagami em 30/04/2019
Reeditado em 02/05/2019
Código do texto: T6636056
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