A despedida

Mais um dia se passava na vida de uma família que viveu muitos dias de glória, festa, felicidade, e que encontrava na situação que estavam vivendo uma fuga da realidade com o objetivo de amenizar um problema que não tinha solução. Não era como escrever um texto argumentativo que se daria uma solução para uma problemática carente de melhoria.

Na vida real, as coisas são bem diferentes dos filmes de animação. Família nem sempre é grande, com muitos integrantes.

A que será apresentada a seguir é diferente, porque eu vi e vou contar o que aconteceu.

Um menino morava com seu avô, juntos formavam uma família.

Ninguém nunca teve a curiosidade de procurar saber o porquê de serem só os dois. Bem no fundo todos sabiam que alguma tragédia havia acontecido em um passado que tentavam esquecer. Este menino e seu avô eram muito unidos; um era a essência do outro. Mas como o tempo não para de agir, um dia tudo muda, as pessoas vão envelhecendo.

De longe se via o decorrer do tempo refletir naquela casinha branca de varanda, pois um dia todos envelhecem e não por escolha.

Anos se passaram e o menino tornou-se homem, trabalhava e estudava, sustentava a casa e cuidava de seu avô. Entretanto, tinha algo diferente em seu olhar, eu percebia.

Talvez fosse o peso das responsabilidades em seus ombros. Entendo que ser adulto não é algo fácil. É muito difícil. Eu pensava nessa possibilidade, mas senti que era preocupação. Seu avô estava doente, vivendo sob uso constante de medicamentos.

Um dia fui à porta da casa deles, mas percebi que não era hora de visita. Deixei-os sozinhos como estavam e fui embora.

Havia uma janela pela qual dava para ver aquele senhor na cozinha. Parecia que tudo aquilo não o deixava com medo. Admiro pessoas corajosas, como ele. É muito cativante haver pessoas que mesmo com tantas adversidades resolvem sorrir em vez de chorar. O senhorzinho ficava o dia inteiro solitário, pois seu neto chegava apenas à noite e o deixava ainda mais sorridente com seu retorno. No entanto, neste dia a rotina foi mudada. Quando o neto chegou ele estava desacordado e o menino, já crescido, chamou a ambulância e foram ao hospital.

Chegando lá, não recebeu boas notícias. Seu avô, observando sua expressão, disse:

– Meu filho, está tudo bem. Não se preocupe.

Aquilo o deixou conformado por alguns instantes.

Voltaram para casa e dormiram. Porém, esta cena ficava cada vez mais frequente naquela residência. Ocorreu o mesmo diversas vezes. Tantas que se perdeu a conta. Aquele senhor foi valente até o último instante. Até quando percebeu que precisava aguentar para se despedir do neto que tanto amava. O rapaz, que se chamava Omar, nunca teve a coragem de abrir o resultado do exame de seu avô. Ele quis pensar nele da forma como era antes de qualquer doença.

Fez tudo que tinha para fazer.

Eu não podia mais esperar e tive que levá-lo comigo. Omar sabia que era a hora e dessa vez eu fui à porta e entrei. Não houve um diálogo, e sim um consenso, pois ele sabia que eu chegaria cedo ou tarde.

Eu sou a despedida.

E ele talvez não tenha me visto fisicamente, mas eu estava ao seu lado naquele momento. Hoje Omar tem filhos e uma grande família.

Seu avô de vez em quando me pede para vê-lo, observar sua felicidade.

Durante os primeiros anos foi bastante doloroso para o jovem viver sozinho, mas ele sabia e eu sei disso: que tudo ficaria bem.

A partida de alguém que se ama, dói na alma, deixa uma cicatriz. Crescer é evoluir com todas as perdas.

Enfim, queria deixar um recado para você que está lendo este texto: não viva sonhando com um futuro distante; viva no seu presente, divirta-se no seu presente, conheça pessoas que façam seu momento presente único e inesquecível, assim como fez Omar. Isto porque um dia desses eu irei bater à sua porta e o levarei comigo, não tenha medo e não se desespere. Eu sei bem quando devo chegar. Eu só passo pela sua vida, não a construo, não a vivo. Sou apenas uma partida de um lugar para outro. Tudo que fizer deixarei contigo. Suas escolhas são exclusivamente suas. Portanto, faça da vida uma boa experiência.

Francisco Pereira Jr
Enviado por Francisco Pereira Jr em 11/10/2018
Reeditado em 20/08/2023
Código do texto: T6473699
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