Como era ingênuo o meu francês
O francês
Chapitre 1 – Tragado
Acenaram para Jean-Paul com as mais doces das promessas. Jean-Paul caiu. E foram banquetes, recepções, vossecelências, mil palavras, pouco dizer, reverências, aparências, e o certo pelo avesso. Era um bruto dum paraíso e todo em gratuidade, até que...
- Ué, mas muita esmola o santo desconfia.
- Sim, doce de leite não bate na porta.
E pediram pra Jean-Paul algumas horas. Jean-Paul vendeu-lhes as horas, eram poucas, o dia tem vinte e algumas. Mas logo pediram-lhe mais e logo mais e logo... Em princípio, a princípio, tudo por empréstimo. No fim, as suas próprias horas não bastavam pra preparar-se para os deveres oficiais. Depois, pediram um rosto, compraram seu sorriso, o andar não era bom, claudicava um pouco do lado esquerdo, trocaram-lhe o jeito de andar...
Chapitre 2 – Dragado
De tão fundo se atolou, crendo e apostando neles, que, ao querer protestar, reagir, organizar passeatas, manifestações só lhe saiu um glu-glu-glu e afundaram-lhe, com delicadeza, a cabeça que tentava voltar à tona... Coitado, devemos-lhe, por isso mesmo, todo o respeito. Afinal de contas, foi um homem que nunca teve nada de seu. Perdeu até o sorriso, até o jeito de andar, moldado por eles. Para as exéquias dragaram-no. Para manter as aparências e a coerência, recitaram, em francês castiço, o necrológio. Merecia todo o respeito.