Rocha

Antônio se encosta ao velho juazeiro no meio daquela paisagem morta.Sua mulher,Iracema,com seus cabelos cacheados,agora secos,dando um último suspiro ajoelhada naquela terra rachada e fervente.

-Perdemos tudo,meu bem!

-Estou com saudades dele,Antônio!

-Eu sei,mas agora ele tá com Deus!

Um breve momento de silêncio se alastrava pelo triste cenário.De repente,Antônio encontra-se com o olhar fixado em uma pequena rocha ao lado do seu pé esquerdo.Rocha dura,resistente,impossível de ser quebrada,uma figura imponente em meio aquela situação.

Antônio pensa,recorda-se de todo o seu sofrimento.Os rios e lagos secando,o gado morrendo,o feijão acabando,o olhar triste de seu filho que foi levado pela seca.Pergunta a si mesmo se vale a pena continuar caminhando,queimando o rosto em meio aquele sol e passando fome no frio noturno.

Mas a figura da rocha o chama atenção,não era apenas um mero cascalho,era um símbolo de resistência,símbolo de vitória.Antônio não deveria ser homem,deveria ser pedra,ser forte e resistente às barreiras criadas pela vida.Encontrando na esperança por dias melhores o vento que o levaria para o lugar onde sempre quis estar.

-Eu tenho que ser pedra.

-O que cê tá falando home de Deus?

Antônio levanta-se e estende a mão a Iracema:

-Vamo Iracema,vamo que a estrada é longa e a salvação tá esperando.

-Que salvação home?-Não tá vendo tudo morto?

-Ande mulher!-Aqui tudo tá morto,mas lá na frente tem uma terra melhor pra gente.Acredite,vai ter.

Iracema levanta-se,os dois se abraçam fortemente e seguem o caminho,sobrevivendo à vida como uma rocha:forte,resistente e sem medo do que o mundo possa lhe causar.