A princesa do alto da torre
A princesa olhou pela janela, do alto de sua torre. Sozinha, aguardava pelo seu príncipe enquanto penteava as madeixas negras. O príncipe não vinha... O príncipe não vinha... "Ele vai vir mesmo?" O Sol já se foi e a Lua surgiu ao lado de suas fiéis colegas, as estrelas, e com elas a noite; e o príncipe... nada! "Ele vai vir mesmo?" Ele não vem! "E agora?" Leia um livro. "Qual livro?" Qualquer livro... "Não há livros aqui". E o que há aí? "Uma cama e uma penteadeira". Que tédio... Sei lá, use sua imaginação, seja criativa; acabe com esse tédio! "Mas e meu príncipe?" Que príncipe, aquele que não vai vir? "Ele vai vir!" Não, ele não vai! A princesa deita-se na cama e logo adormece, a sonhar com o príncipe: um homem alto, forte, de provocantes olhos verdes montado em seu belíssimo cavalo branco, a enfrentar leões e dragões para vir salvá-la. Mas salvá-la do quê, mesmo? "Desta torre". E como você chegou até aí? "Na verdade, eu sempre morei aqui com minha mãe; esta torre é herança de meu pai". E sua mãe te deixou presa aí? "Não! Esta torre é minha casa, herdada de meu pai. Há uma porta com uma escada ali atrás que dá para floresta. Eu amava brincar lá com animais quando era criança". Então, por que você não vai embora? "Por causa do príncipe". Que príncipe? Aquele que não vai vir? "Ele vai vir!" Que tal você ir atrás dele? "Mas as histórias dizem que são as donzelas que devem aguardar pelos príncipes encantados". E onde você ouviu isto? "Ora, nos livros" Que livros?! Aqueles que não existem aí na torre? A princesa vai ao seu armário e troca o longo vestido branco, com bordados no peito e babados por uma blusa regata e uma calça mais confortável; põe um sapato e sai, floresta adentro. Ela caminha até chegar a uma taberna e, ao entrar, sente um forte cheiro de suor e comida estragada. Só havia quatro clientes: um, sentado sozinho, a bebericar um copo de cerveja já meio vazio e uma outra mesa com dois homens e uma mulher, todos rindo muito alto. Atrás do balcão um sujeito baixo e careca secava uma caneca com pano sujo e, nesta hora, a princesa não tinha certeza se ele estava a limpá-lo de fato ou estava a sujá-lo ou seja lá o que ele estava a fazer. "Princesa! Quanta honra tê-la aqui!" saúda o homem ao vê-la. Nesta hora o homem solitário pula de sua cadeira, levantando-se com um salto. "Princesa! Eu... eu já ia salvá-la..." responde o homem — totalmente diferente do que ela imaginava ser um príncipe. A princesa sai da taberna e segue para uma biblioteca, logo à frente. Lá ela pega vários livros e volta para sua torre. Vai lê-los, princesa? "Sim, vou". Mas, e o príncipe? "Que príncipe? Aquele que não veio?" Sim, ele mesmo. "Ele... que se dane!" E ela abriu um dos livros, deitou-se na cama e começou a lê-lo.