Jesse e J.

O som abafado se torna alto e claro assim que eu abro porta. O Sax dita o ritmo lento e suave do ambiente. Caminho até o balcão e peço uísque. Acendo um cigarro e trago enquanto observo Jesse, a garçonete de olhos amarelos. Seu nome vem do famoso Jesse James, ela não conhecia sua história e, eu a contei em uma noite em sua casa após alguns copos de uma bebida qualquer. A partir desse dia ela começou a me chamar de James, diz ela que meu nome é complicado e tem dificuldade com a pronúncia. Penso que seja pelo afeto que começou a sentir por mim depois daquele dia. Ela avistou-me. Bebo um gole e trago. Seu caminhar é sedutor e charmoso. Seu quadril harmoniosamente segue suas belas coxas que ficam amostra nesse uniforme que usam aqui.

– Como está a noite, James? – Pergunta enquanto coloca a bandeja no balcão e repassa os pedidos ao barmen com cara de poucos amigos. Imagino que ele seja afim da Jesse e percebe a forma diferenciada que ela me trata.

– Está apenas começando. – Respondo olhando em seus olhos e depois em seu decote. – Tem planos para mais tarde? – Pergunto enquanto dou outro gole no uísque.

– As coisas mudaram, James. – Responde cabisbaixa. – Estou encrencada. – Continua enquanto pega a bandeja e sai.

Encrencada? A palavra é simples, de fácil entendimento, mas pode significar muitas coisas. A palavra ecoa em minha cabeça enquanto eu a olho servir as mesas. Onde será que você se meteu agora, Jesse? Peço outro uísque, sinto que vou precisar de mais combustível para embarcar nessa viagem. Jesse circula entre as mesas, um idiota dá um tapa em sua bunda, ela parece não se importar, mas eu me importo. “O respeito é fundamental para o bom convívio”, dizia meu velho pai. Levanto após tomar o uísque em um só gole e caminho até o sujeito um tanto fora de forma.

– O respeito é fundamental para o bom convívio. – Digo a ele. – Peço que peça desculpas a moça. – Ordeno com firmeza na voz.

– Pegue esse respeito e enfie… – Ele aponta o dedo na minha cara. – No c… – Antes de terminar sua frase de efeito eu quebro seu dedo e seu braço em dois lugares.

– O respeito é fundamental para…

– Você está louco? – Interrompe-me Jesse com cara de assustada.

– Creio que não tenha bebido o suficiente ainda. – Respondo com um pequeno sorriso no canto da boca.

– Você acabou de se matar! – Sua voz começa a se alterar. – Esse é Sweety Bob. Fuja daqui enquanto pode! – Aconselha.

A uma razão para minha ignorância existir sobre muitas coisas, é para por aprova minha coragem. Sweety Bob, ou melhor, o carniceiro de Nashville. O mais cruel e desumano ser que pisou na cidade. Subiu nessa vida matando tudo e todos. Estou na sua lista agora, mas riscarei meu nome com sangue, com o sangue dele. De impulso pego Jesse pela cintura e dou um belo beijo nela e, só depois que termino percebo a besteira que fiz. Acabei de coloca-la em risco.

– Espere lá fora! – Ordeno e ela obedece.

Sweety Bob pega sua arma com a outra mão, antes de empunha-la eu a tomo com certa facilidade após socar seu rosto. Coloco-a em seu peito, em cima do coração e ele sorri.

– Não vai existir lugar onde você possa esconder essa sua bunda suja. A mensagem será enviada a todos. – Ele aumenta o tom para todos ouvirem. – Cem mil pela cabeça desse idiota aqui!

– Pois a minha também será! – Puxo o gatilho três vezes. Seus olhos saltam para fora, não só os deles, mas os de todos presentes. Sua respiração para e eu também.

Ajeito-me e, antes de sair, elogio o Sax. Deixo uma nota de cem no balcão para ele. Abro a porta e vejo os capangas do Sweety Bob armados até os dentes. Antes de dispararem eu vejo um par de olhos amarelos do outro lado da rua. Você tem os olhos mais lindos que eu já vi, doce Jesse. Pena eu nunca ter elogiado eles para você.

As balas são como gotas de chuva quente. Lavam meu corpo e levam mina alma.

Perdoe-me, Jesse. Eu sei que está encrencada e não poderei te ajudar dessa vez